Em solo, no espaço e em base de dados, astrônomos descobrem mais exoplanetas

Estamos em plena entressafra no estudo dos planetas fora do Sistema Solar, mas algumas notícias vão pipocando por aí para não deixar desalentadas as almas que, trancadas em casa ou não, ainda sonham com a maravilhosa variedade dos sistemas planetários lá fora. As modestas novidades vêm de de todo canto: dados de arquivo, telescópios em solo e no espaço.

Passamos da fase em que uma única fonte – o satélite Kepler, que realizou sua missão primária entre 2009 e 2013 – fornecia a descoberta de centenas de mundos a cada semestre. Mas os dados do velho Kepler, desativado por falta de combustível em 2018, continuam a ser garimpados pelos pesquisadores.

Na semana que passou, a Nasa anunciou que uma das detecções feitas pelo satélite, de início marcada pelo sistema automático como “falso positivo”, é de fato um planeta. A reanálise cuidadosa dos dados revelou que a estrela Kepler-1649 tem um planeta com diâmetro praticamente igual ao da Terra (apenas 6% maior), em órbita que o coloca na zona habitável de sua estrela (recebendo cerca de três quartos da radiação com que o Sol banha a Terra).

O novo planeta, cuja descoberta foi publicada no Astrophysical Journal Letters, ganhou a designação Kepler-1649 c, porque o b já havia sido descoberto em 2017, com diâmetro 28% superior ao da Terra, numa órbita superquente. A estrela-mãe é uma anã vermelha, menor que o Sol. Esses planetas estão a 300 anos-luz daqui, o que os tornam alvos promissores para futuras análises de sua composição.

Por sinal, era para já estar acontecendo, se a Nasa tivesse conseguido cumprir o plano de lançar o Telescópio Espacial James Webb em 2018. Esse grande observatório terá a capacidade de captar a luz filtrada pela atmosfera desses mundos e, com isso, investigar sua composição. Atrasos com o projeto levaram à remarcação do lançamento para 2021 – e pode atrasar ainda mais, com a pandemia.

Nesse ínterim, outras missões trabalham para fazer caracterizações de exoplanetas. O satélite europeu Cheops, lançado em dezembro de 2019, concluiu a qualificação de seus instrumentos, e a missão científica está pronta para começar. Em uma observação de teste, ele foi apontado para a estrela HD 93396, que tem um planeta gigante gasoso, como Júpiter. Mas quão gigante? O Cheops permitiu precisão inédita nessa estimativa: ele tem diâmetro de 181.600 km, com margem de erro de apenas 4.300 km.

E os telescópios em solo continuam seu trabalho de formiguinha, achando planetas com observações individuais de cada estrela. A celebrada equipe da Universidade de Genebra acaba de reportar no periódico Astronomy & Astrophysics a descoberta, após sete anos de observações, de um sistema de seis planetas em torno da estrela HD 158259, na constelação do Dragão. São cinco mininetunos e uma superterra, em ressonância quase perfeita 3:2, o que significa dizer que, a cada três voltas ao redor de sua estrela de um planeta, o imediatamente mais externo dá duas voltas.

E por aí seguimos, à cata de novos mundos. Mas o melhor ainda está por vir.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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