Nasa contribui com respirador, capacete e descontaminador contra Covid-19
A Nasa, como não poderia deixar de ser, mantém um olho no hoje e outro no amanhã. Os trabalhos essenciais na exploração espacial continuam, mas a maior parte da força de trabalho da agência espacial americana agora trabalha de casa. E muitos deles estão engajados no combate direto ao novo coronavírus.
É uma das grandes vantagens que um país colhe ao manter um grupo fantástico de engenheiros focado nos maiores desafios tecnológicos que a mente humana é capaz de conceber, explorando o desconhecido. Em 1º de abril, a agência submeteu a seus funcionários um chamado por ideias de como usar suas capacidades para ajudar na crise sanitária. Em duas semanas, surgiram mais de 250 delas, que então foram submetidas a um processo de votação interna a fim de serem priorizadas.
Na quinta-feira (23), foram apresentados alguns dos resultados: um novo respirador de baixo custo, um capacete de pressão positiva e um sistema de descontaminação de superfícies.
O respirador Vital tem a cara da Nasa. Não só “Vital” é um acrônimo meio forçado (Tecnologia de Intervenção de Ventilador Localmente Acessível), como atende a uma grande lista de pré-requisitos: precisa ter poucas peças, ter construção e manutenção rápidas, ter produção em massa economicamente factível e não ser um substituto capaz de concorrer com a atual cadeia de suprimentos médicos – a pior coisa agora seria quebrar os fabricantes de equipamentos hospitalares.
O sistema foi criado pelo JPL (Laboratório de Propulsão a Jato), onde são concebidas muitas das missões interplanetárias da Nasa, e tem como função ajudar a respiração de pacientes menos críticos de Covid-19. Ele foi testado na Escola de Medicina Icahn, em Nova York, e aguarda aprovação da FDA (agência que regula fármacos e alimentos nos EUA) para uso emergencial. A patente naturalmente é livre, e a ideia é que várias empresas possam fabricá-lo. Seu uso liberaria os respiradores tradicionais para os pacientes em estado mais grave.
Já o capacete de pressão positiva foi desenvolvido no Centro Armstrong de Pesquisa de Voo e é basicamente um sistema para tratar pacientes com sintomas mais leves de Covid-19, evitando que eles passem aos ventiladores. O capacete usa um diferencial de pressão para facilitar a entrada do ar nos pulmões do paciente. O dispositivo foi testado por médicos no Hospital Antelope Valley e 500 deles já estão em produção. Também aguardam autorização da FDA para uso disseminado.
Por fim, uma equipe do Centro Glenn de Pesquisa desenvolveu um equipamento portátil e econômico para descontaminar espaços e ambulâncias em menos de uma hora, por uma fração do custo dos sistemas em uso atualmente. O sistema, chamado AMBUStat, já está sendo usado em viaturas policiais e em outros espaços para rapidamente desativar partículas virais em superfícies. As pesquisas continuam para torná-lo cada vez mais eficiente.
Em paralelo, de olho no futuro, a agência segue em preparação para o primeiro lançamento de astronautas por uma empresa privada, no dia 27 de maio, e o lançamento do próximo jipe marciano, em julho (a estação espacial precisa de tripulantes, e o alinhamento dos planetas não respeita pandemias).
O leitor mais cínico talvez se pergunte se não seria mais eficiente fechar a Nasa e abrir logo uma agência dedicada aos problemas do agora terráqueo. Eu devolvo com uma pergunta: será que essa hipotética agência do “hoje” atrairia tanta competência e criatividade se estivesse focada somente na necessidade imediata? Será que esses produtos poderiam ter sido concebidos sem aqueles que sonham com o futuro da humanidade e com a expansão dos domínios da ciência? Fica como reflexão para mais uma semana de isolamento social.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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