Após três décadas, Nasa volta a investir na busca por inteligência extraterrestre
Após mais de três décadas, a Nasa volta oficialmente a investir em busca por inteligência extraterrestre. Desta vez, o foco é na procura pelas “tecnoassinaturas”, nome dado aos sinais discretos (mas suficientemente notáveis) que civilizações podem produzir em seu planeta de origem, mesmo sem querer. Exemplo: poluição atmosférica.
É uma nova maneira de proceder com essa linha de pesquisa, conhecida pela sigla Seti. Até então, os pesquisadores precisavam contar com a boa-vontade de eventuais sociedades comunicativas, na esperança de que elas enviassem um sinal de rádio ou laser direcionado a nós, passível de detecção por nossos mais sensíveis telescópios e antenas.
A última vez em que a Nasa se meteu com isso, por sinal, foi um fiasco. Após anunciar, em 1992, o financiamento de um grande projeto de escuta radiotelescópica, cobrindo o céu inteiro (com especial atenção para as estrelas mais próximas e promissoras), a agência espacial americana foi barrada pelo Congresso, que ironizou a iniciativa como uma infrutífera “caça aos homenzinhos verdes”.
Reduzido em escopo e apropriadamente rebatizado de Phoenix, o projeto acabou seguindo adiante, a partir de 1995, tocado pelo Instituto Seti, com verbas privadas. Nada foi encontrado.
Desde então, falar em civilizações extraterrestres nos círculos científicos deixou de ser tabu. Telescópios espaciais e em solo já descobriram milhares de planetas fora do Sistema Solar, dezenas dos quais se encontram na chamada “zona habitável” – a faixa ao redor de sua estrela-mãe que não é nem muito quente, nem muito fria, permitindo a existência de água em estado líquido na superfície de um mundo que lá estiver. (A Terra, claro, está na zona habitável do Sistema Solar.)
Por ora, trata-se de um trabalho modesto: apenas uma bolsa para um pequeno grupo de cientistas com o objetivo de elencar possíveis tecnoassinaturas, detectáveis com a próxima geração de telescópios. O estudo iniciará a criação de um catálogo de assinaturas de luz hipotéticas, que no fim das contas poderá ser comparado às assinaturas de luz reais dos exoplanetas.
O grupo, liderado pelo astrofísico Adam Frank, da Universidade de Rochester, vai se concentrar no início em dois tipos de tecnoassinaturas: traços de poluição atmosférica e a presença de vastos campos de painéis solares. “Deste modo, astrônomos que observem um exoplaneta distante saberão onde e o que procurar.”
Trata-se de uma extensão da busca por bioassinaturas (sinais de qualquer tipo de vida), uma tarefa menos inglória. Tome a Terra por exemplo: enquanto nossas crescentes tecnoemissões de CO2 levam esse gás a responder por 0,04% da atmosfera, a “poluição” gerada pela fotossíntese (plantas e cianobactérias) responde por 21% da atmosfera, na forma de oxigênio. A quantidade facilita a detecção por astrônomos alienígenas que estejam limitados a observar nosso planeta de muito longe. (Aliás, se essa turminha estiver a 250 anos-luz daqui, nem tem como saber que já rolou revolução industrial na Terra; eles veem agora nosso planeta como ele era em 1770.)
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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