Para o Dia do Asteroide, ESA traz ranking dos sete com maior chance de impacto
Eba, Dia do Asteroide! É, eu sei, esquisito comemorar Dia do Asteroide em meio a tanta desgrama. Mas é o que tem para hoje, e a Agência Espacial Europeia resolveu elencar os sete asteroides conhecidos com maior risco de colisão com a Terra, só para deixar todo mundo relax.
Antes de passearmos por este ranking, contudo, uma paradinha para explicar o porquê da data. Exatos 112 anos atrás, tivemos o mais perigoso impacto de asteroide da nossa história recente. Aconteceu em Tunguska, na Sibéria, em 30 de junho de 1908, e representou na verdade um imenso golpe de sorte: pouca gente mora na Sibéria.
Naquele dia, um bólido celeste rochoso, com talvez algo ao redor de 40 metros, adentrou em altíssima velocidade a atmosfera terrestre e explodiu, a 5 a 10 quilômetros de altitude, numa detonação 200 a 600 vezes mais energética que a bomba atômica lançada contra Hiroshima em 1945. A onda de choque achatou cerca de 80 milhões de árvores em uma área de 2.150 km2. Foi feio. Sobre uma grande cidade, poderia tê-la destruído completamente. Em meio à vastidão da floresta siberiana, fez poucas vítimas humanas (ninguém sabe quantas, mas há relatos de que pelo menos três).
De toda forma, aviso maior não poderia haver de que asteroides são mesmo um perigo. Impactos devastadores são raros, mas acontecem, e, quando vêm, na pior das hipóteses, podem levar a extinções em massa. Um minuto de silêncio pelos dinossauros, desaparecidos há 65 milhões de anos.
Para elevar o nível de consciência sobre o problema, em 2014, a ONU (que alguns malucos por aí confundem com a HYDRA ou com a SPECTRE) proclamou, ao lado de cientistas como Stephen Hawking, Richard Dawkins, Kip Thorne e Martin Rees (para não falar nos astronautas Jim Lovell e Michael Collins, no cosmonauta Alexei Leonov e no Brian May, que você pode categorizar como astrofísico ou guitarrista do Queen): todo 30 de junho é Dia do Asteroide.
Manja o aviso que os cientistas vinham dando havia décadas sobre a possibilidade de uma pandemia viral com potencial devastador e ninguém fazia grande coisa a respeito? Então, o Dia do Asteroide é igual, com a diferença de que ainda dá tempo de fazer alguma coisa. Como dizia o escritor Arthur C. Clarke, os dinossauros só foram extintos porque não tinham um programa espacial.
E o que podemos fazer? Bem, a primeira parte é monitorar os asteroides. Mapear onde estão todos esses pedregulhos que restaram da formação do Sistema Solar, de onde vêm, para onde vão, e com isso ter um sistema de alerta para o caso de ter lá fora alguma rocha espacial com nosso nome nela.
Pensando em termos da pandemia, é o que fazem os cientistas que avisam coisas do tipo “ó, tem uma doença esquisita aqui em Wuhan”, ou “ó, tem essa nova variante do vírus da gripe suína que parece ter gosto por humanos, melhor ficar de olho”. Como temos visto de forma dolorosa em tempos recentes, essa é apenas a parte mais simples do problema. Depois é preciso agir de forma coordenada e racional com base no aviso, o que é muito mais complicado. Mas ter um aviso já é um começo.
E é daí que vem o ranking dos “sete mais” da ESA. Eles representam uma boa amostra de nossos esforços para monitorar asteroides e assim evitarmos futuras surpresas desagradáveis.
Sem mais delongas, vamos a eles, da forma como foram apresentados pela agência europeia, do menos perigoso para o mais perigoso.
7. 2007 KE4
Este menino aqui, como o nome diz, foi descoberto em 2007. Tem algo como 30 metros de diâmetro, e uma órbita que dá pinta de que ele foi arremessado do cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter, sem dó ou piedade, pelo maior dos planetas do Sistema Solar, na nossa direção. Órbitas de asteroides são mais incertas quanto mais o tempo passa, porque pequenas interações gravitacionais pelo caminho já são capazes de modificá-la de formas imprevisíveis. Daí que os cientistas tiram que há 1 chance em 11 mil de um impacto desse bebê com a Terra em 2077.
6. 2008 JL3
Outro bichano na faixa dos 30 metros de diâmetro, também numa órbita alongada que o remete a uma origem no cinturão de asteroides. Nós já vimos ele passar de raspão pela Terra uma vez, e na próxima visita, em 2027, ele tem 1 chance em 7.000 de trombar com a gente. Pois é, 2027. Mas também, 1 chance em 7.000. Convém ficar de olho, mas é pouco provável que ele acabe caindo aqui.
5. 2009 JF1
Menorzinho esse, com 13 metros de diâmetro. Sua órbita cruza a da Terra e mergulha Sistema Solar adentro, chegando perto de Mercúrio. Sua chance de impacto com a gente é de 1 em 4.166, mas o tamanho não mete medo. Pode, na pior das hipóteses, causar estragos locais.
4. 2011 DU9
Outro de porte modesto, estimados 16 metros, mas com chance de impacto três vezes maior que seu antecessor: 1 em 1.742. Sua órbita também remete ao cinturão de asteroides. Ele se aproxima da Terra a cada 27 anos, e o maior risco de impacto virá em 2046. Seu porte é similar ao do asteroide que caiu em Chelyabinsk, na Rússia, em 2013.
3. 2000 SG344
Esse aqui já mete mais medo. O diâmetro é estimado em 40 metros, e a órbita já explica todo o problema. Ele está numa trajetória muito, muito parecida com a da Terra. Se veio do cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter (como a imensa maioria desses objetos), encontros sucessivos com a Terra devem ter circularizado sua órbita, de forma que ele já não visita mais sua região de origem. Dando uma volta ao redor do Sol a cada 353 dias, ele passa algum tempo perto de nós, e muito tempo longe de nós. O tamanho não é de se desprezar, e a chance de uma colisão com nosso planeta é de 1 em 1.183. O tamanho o coloca no naipe “Tunguska”.
2. 2018 VP1
Aqui as probabilidades já começam a jogar contra a gente. Este asteroide tem uma chance relativamente alta de trombar com a gente: 1 em 193. Quando? Em novembro deste ano. Sua órbita parece ter sido moldada por encontros com a Terra e com Marte, de forma que ele não mais visita o cinturão de asteroides. E digo mais: quando novembro chegar, não sei você, mas eu vou torcer para bater! Ele tem apenas 2,4 metros, o que nos garantirá um belo espetáculo visual, e material farto para os caçadores de meteoritos, mas não deve oferecer qualquer perigo. Sem falar que é muito legal prever quando um asteroide vai bater ANTES que aconteça. É sinal de que nosso sistema de alerta está funcionando. Mas não tanto quanto gostaríamos. Até hoje, só previmos com sucesso um impacto antes de acontecer em três ocasiões: a primeira foi em 2008, a segunda em 2014 e a terceira em 2018. Só que, em cada um desses anos, houve respectivamente 34, 33 e 38 impactos registrados que não conseguimos prever.
1. 2010 RF12
Este aqui é o que lidera a fila de asteroides com potencial de colisão. Ele foi descoberto ao passar de raspão pela Terra, em 2010 (quando esteve a menos de um quarto da distância até a Lua), e a estimativa de probabilidade de um futuro impacto é de 1 em 20, 5%. Mas seus 8 metros de diâmetro não metem muito medo e esse encontro fatídico, se ocorrer, virá só em 2095. Se até lá não tivermos passado à segunda etapa da defesa contra os asteroides, que consiste em termos planos preparados para uma tentativa de deflexão em caso de colisão, pode tirar os olhos.
Esse exercício da ESA de listar os “sete mais” é muito interessante, sobretudo nesta época em que a covid-19 está forçando a população a entender como a ciência lida com essas coisas. Muitas vezes, o melhor que ela pode oferecer são estimativas e probabilidades, bem como estratégias de mitigação. Mas cabe a nós colocarmos em prática o conhecimento que ela gera, com a humildade de quem tateia no escuro do Universo em busca de respostas. Talvez pareça pouco diante dos enormes desafios que a natureza nos impõe. Mas é a única vantagem real que temos com relação aos dinossauros, então vale a pena apostarmos nossas fichas nela.
BÔNUS: A Semana no Sistema Solar #4
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