Com a ajuda das Plêiades, Nova Zelândia celebra o ano novo maori

A celebração do ano novo é uma tradição humana que remonta às nossas origens, fruto da nossa capacidade singular de perceber os ciclos repetitivos da natureza. Mas quantos de nós seríamos capazes de identificar os anos se fôssemos completamente desprovidos de uma folhinha de calendário, para não falar de nossos oniscientes dispositivos eletrônicos?

Infelizmente, boa parte da conexão que nossos ancestrais tinham com o céu – a principal referência para decifrar ciclos como o das estações – a essa altura já foi perdida. Nesta segunda-feira (20), estaremos celebrando os 51 anos do homem à Lua, com a alunissagem da Apollo 11, bem como os 147 anos do nascimento de Alberto Santos-Dumont, nosso patrono da aviação. Todas lembranças oportunas. Mas quantas datas comemorativas das tradições dos nossos povos nativos você conhece? Vivemos num país em que autoridades declaram casualmente, a quem quiser ouvir, que abominam que os indígenas brasileiros preservem sua identidade e cultura.

Notem o contraste com a Nova Zelândia, que nesta mesma segunda-feira celebra o ano novo maori. Claro que os neozelandeses comemoram o réveillon ocidental, no dia 31 de dezembro. Mas também lembram cada novo começo do Maramataka, o calendário maori. Como ele é baseado nos ciclos lunares, não há sincronismo perfeito com o calendário gregoriano e, a cada volta da Terra ao redor do Sol, a data cai num dia diferente.

A celebração coincide com a primeira lua nova após o despontar no céu neozelandês, pouco antes do nascer do Sol, de um aglomerado de estrelas, bem no meio do inverno. Ele é chamado de Matariki. Não conhece? Tente as Plêiades.

Localizadas na constelação de Touro, a cerca de 440 anos-luz daqui, elas são um dos aglomerados abertos mais brilhantes do céu, com suas estrelas azuis e quentes. Para o povo maori, há milênios elas servem de referência para o plantio, a colheita e a caça, além de também ajudar na navegação. Os polinésios, por sinal, foram grandes navegadores do Pacífico, muito antes que os europeus sonhassem desbravar os oceanos.

Por diferentes nomes, as Plêiades são objetos culturalmente importantes desde sempre, entre povos tão distantes quanto os persas, os chineses, os maias, os astecas e os sioux da América do Norte.

Trata-se de mais um daqueles lembretes de que cada cultura faz a sua própria leitura do céu, e o céu, por sua vez, ajuda cada civilização a encontrar seu caminho para a ciência e a exploração. E veja só que curioso: os tupis-guaranis, a meio mundo de distância, também usavam o nascer das Plêiades como referência para seu ano novo.

Não temos atividades culturais promovidas pelo Brasil para celebrar o ano novo tupi-guarani. Mas, se você quiser acompanhar o ano novo maori, a Nova Zelândia (que já debelou a pandemia do novo coronavírus) promove (em facebook.com/PureNewZealand), a partir das 14h30, uma transmissão da festa. No fim das contas, somos todos humanos, e sempre vale celebrar a riqueza de nossa diversidade cultural – todos unidos sob o mesmo céu.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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