Novo jipe da Nasa terá de responder na lata: houve ou não vida em Marte?
O palco já está armado. Nesta quinta-feira (30), deve partir de Cabo Canaveral, na Flórida, a última das espaçonaves destinadas a Marte neste ano. Estamos falando da missão Mars 2020, composta pelo jipe Perseverance e pelo mini-helicóptero Ingenuity. O projeto representa uma mudança de paradigma para a exploração de Marte, ao estabelecer como meta número um a busca por evidências de vida no planeta vermelho.
As oportunidades para voar da Terra a Marte usando a menor energia possível aparecem a cada 26 meses, quando os dois planetas se alinham para encurtar o caminho entre eles. A atual janela se abriu em meados de julho e se fecha em meados de agosto.
Já se aproveitaram dela os Emirados Árabes Unidos, que lançaram a Hope (Al Amal), sua primeira sonda orbitadora a Marte, no dia 19, e a China, que lançou a Tianwen 1, conjunto de orbitador, módulo de pouso e jipe, no dia 23. O americano Perseverance é o último da fila, já que a missão europeia ExoMars, com o rover Rosalind Franklin, acabou adiada para 2022, quando se abre a janela seguinte.
Duas etapas cruciais separam o mais novo jipe construído pelo JPL (Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa) de seus objetivos: o lançamento, que depende do bom desempenho do confiável foguete Atlas V, e o pouso em Marte, que deve vir em fevereiro de 2021.
O Perseverance usará a mesma estratégia de descida que a aplicada com sucesso com seu irmão Curiosity, em 2012. E, sim, são irmãos – a estrutura do Perseverance até usa peças sobressalentes da fabricação do Curiosity!
Por dentro, claro, são diferentes. Enquanto o Curiosity tinha por principal objetivo buscar evidências de química orgânica em Marte, o Perseverance amplia a ambição: não é meramente detectar compostos de carbono, mas determinar se houve ou não vida no passado do planeta.
Para isso, ele deve descer na cratera Jezero, local onde espera-se que sinais biológicos pregressos possam ter sido conservados por bilhões de anos, desde que Marte deixou de ser um planeta habitável para virar o atual deserto gelado e seco que é hoje.
São ao todo sete instrumentos embarcados, com importantes colaborações europeias. Entre eles estão câmeras, um imageador de radar, “lanternas” de laser, raios X e ultravioleta, todas voltadas para a análise da composição de amostras.
O jipe também tem um olhar para o futuro da exploração marciana. Com seu braço robótico, reunirá as amostras mais importantes e as armazenará em frascos, a serem deixados no solo para que sejam trazidos de volta à Terra em uma futura missão robótica. E um experimento embarcado produzirá oxigênio a partir do dióxido de carbono atmosférico, para testar a exploração local de recursos naturais, em suporte a futuras missões tripuladas.
De quebra, o pequeno Ingenuity testará a possibilidade de voo na tênue atmosfera marciana, servindo como um escudeiro do Perseverance mapeando seu caminho adiante. Será mais uma grande aventura de exploração. E começa nesta quinta-feira.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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