Achado de fosfina aumenta interesse por Vênus, e Nasa já planeja novas missões

O achado de fosfina – uma potencial bioassinatura – na alta atmosfera de Vênus certamente reacenderá o interesse pela exploração do planeta vizinho mais próximo da Terra.

Para que se tenha uma ideia, temos hoje uma única sonda operacional em órbita de Vênus – a japonesa Akatsuki. Lançada em 2010, ela só conseguiu se inserir ao redor do planeta em 2015, após uma falha na primeira tentativa, e completa uma volta a cada 10 dias. Foi o que deu pra fazer no improviso após a primeira falha na inserção orbital, já que o plano original envolvia uma órbita científica de 30 horas.

Os europeus tiveram uma sonda venusiana, Venus Express, que operou em órbita por 10 anos, entre 2006 e 2015. E os americanos fizeram sua última visita ao gêmeo infernal da Terra entre 1989 e 1994, com o orbitador Magellan (Magalhães). Chega a ser surreal o baixo interesse, dada a alta acessibilidade de Vênus – é mais fácil ir para lá que ir para Marte.

Parte do drama tem a ver com a hostilidade do ambiente. A superfície venusiana é tão inclemente que os únicos a de fato pousarem com sucesso uma sonda por lá foram os soviéticos, com as sondas não tripuladas do programa Venera, e mesmo assim elas duravam apenas um par de horas, antes que fossem destroçadas pelo calor acachapante e pela pressão atmosférica equivalente à de estar sob 1 km de oceano na Terra. E joga contra o fato de que a última sonda russa voou para Vênus em 1986.

Já está mais do que na hora de a comunidade espacial voltar novamente seu olhar para nosso planeta vizinho mais próximo. E a mudança já está a caminho.

Neste momento, a Nasa está em processo de seleção para as próximas missões da classe Discovery, que devem voar entre 2025 e 2026. Das quatro propostas pré-selecionadas em fevereiro deste ano, uma se destina a estudar vulcões em Io, lua de Júpiter, outra a fazer um sobrevoo do remotíssimo Netuno, e duas estão voltadas para Vênus.

Se antes da descoberta da fosfina era improvável que ao menos uma das propostas escolhidas não fosse destinada a Vênus, agora se torna impossível. E não duvide se acabarem escolhendo as duas.

Uma delas, Davinci (é um acrônimo, mas também uma óbvia referência ao famoso renascentista), pretende atravessar a atmosfera venusiana colhendo informações sobre sua composição e ir tirando fotos da superfície até chegar ao chão – no que seria o primeiro pouso suave americano em Vênus. A missão, freada por paraquedas, colheria dados por 63 minutos até chegar ao solo.

A outra proposta, Veritas, seria um novo orbitador, dedicado a estudar, por meio de radar de alta resolução, a superfície venusiana, enxergando através das nuvens.

Do ponto de vista da descoberta da fosfina e da investigação de possíveis sinais de vida nas nuvens de Vênus, Davinci parece mais atraente que Veritas. A escolha final da Nasa será feita em abril de 2021.

Fora isso, a redução do custo do acesso ao espaço faz com que organizações de pesquisa possam sonhar, elas mesmas, com missões de baixo custo. Sara Seager, pesquisadora do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e coautora do trabalho sobre a fosfina, disse que já há conversas com a empresa Rocket Lab para o lançamento de uma missão de baixa massa (apenas 3 kg) e baixo custo, focada especificamente no potencial astrobiológico venusiano. É um empolgante sinal de que o interesse por Vênus pode estar vindo para ficar.

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