Objeto a caminho da Terra pode ser pedaço de foguete de antiga missão lunar
Um objeto descoberto em rota de aproximação da Terra — inicialmente apontado como um asteroide — provavelmente é um estágio de foguete gasto lançado em uma missão lunar da Nasa há mais de 50 anos. Ainda não há confirmação definitiva, mas tudo leva a crer que se trate de um propulsor Centaur usado para impulsionar a sonda Surveyor 2, lançada em setembro de 1966.
O astro, identificado pela “etiqueta” 2020 SO, foi descoberto na quinta-feira passada (17), pelo PanSTARRS, projeto financiado pela agência espacial americana e instalado no Havaí, com o objetivo de buscar asteroides próximos à Terra que possam trazer alguma ameaça ao nosso planeta.
Assim que um objeto novo é identificado, o trabalho ocorre na direção do passado e do futuro: novas observações vão acompanhar o movimento dele, enquanto imagens de arquivo são reanalisadas para ver se ele já aparecia nelas. O que de fato se revelou verdadeiro para o 2020 SO. Os pesquisadores chegaram a encontrar imagens dele um mês antes da descoberta, o que melhorou a precisão da estimativa da órbita que ele está fazendo ao redor do Sol.
“Pouco tempo depois, começou uma discussão se era um objeto artificial”, conta Cristóvão Jacques, astrônomo do observatório SONEAR, em Oliveira (MG), principal instalação caçadora de asteroides no hemisfério Sul. “Isso principalmente devido a sua velocidade relativa à Terra ser bem baixa.”
Não é incomum que asteroides “encontrem” nosso planeta viajando a vários quilômetros por segundo com relação a nós. Mas, no caso do 2020 SO, estamos falando de apenas 0,6 km/s. “É muito baixa para ser de um asteroide”, diz Jacques.
Além disso, um esforço para reconstruir a trajetória pregressa do objeto revelou que ele estava nas imediações da Terra em setembro de 1966, coincidindo com a partida da Surveyor 2. A sonda, no caso, falhou em pousar na Lua, mas sabe-se que o estágio superior do foguete, o Centaur, entrou numa órbita heliocêntrica (ao redor do Sol), muito parecida com a da própria Terra — exatamente o caso do 2020 SO. “O consenso é que seja artificial mesmo.”
Embora seja a hipótese mais provável neste momento, o jogo não acaba até que se descarte a hipótese de ser mesmo um asteroide. “Só com mais observações para cravar o veredito, ou alguém colher o espectro do objeto”, diz Jacques.
Não é incomum que objetos de origem artificial façam reencontros com a Terra, passando algum tempo nas imediações terrestres, antes de se afastar. Já aconteceu diversas vezes antes, com estágios lançados nos anos 1960 e 1970. Quando ao destino do 2020 SO, existe a expectativa de que ele seja capturado temporariamente em órbita do nosso planeta, passe algum tempo em nossas imediações, para depois se afastar novamente. Sua aproximação máxima da Terra deve ocorrer em dezembro de 2020 e é estimada em 41 mil km.
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