Equipe quer redirecionar sonda da Nasa para visitar asteroide Apófis

A equipe responsável pela missão Osiris-Rex, que no mês passado colheu uma amostra do asteroide Bennu, a fim de trazê-la de volta à Terra em 2023, já planeja uma missão estendida após a entrega do pacote: uma visita ao temível asteroide Apófis.

Os planos foram apresentados pela equipe liderada por Dante Lauretta, cientista-chefe da missão, em um workshop virtual chamado Apophis T-9 Years, em que a comunidade científica debateu oportunidades de estudos científicos e de defesa planetária relacionados ao astro.

Com seus cerca de 350 metros de diâmetro, o Apófis causou certo alvoroço em 2004, logo após sua descoberta, quando os astrônomos estimaram um risco nada desprezável (2,7%) de colisão com nosso planeta, em 2029. Estudos posteriores rebaixaram esse risco a praticamente zero, indicando que ele deve passar a 31,2 mil km da Terra, com margem de erro de apenas 700 km.

Contudo, a interação com a gravidade terrestre nessa passagem (mais perto que os nossos satélites de telecomunicação) desviará sua órbita de modo a trazer novo perigo em 2036. Estima-se que esse perigo seja ainda menor que o de 2029, mas os astrônomos sabem que é difícil prever com exatidão a posição de um asteroide muitas órbitas no futuro, ainda mais após um desvio gravitacional da magnitude do previsto para 2029. Em resumo: é bom ficar de olho nele.

A proposta dos cientistas da Osiris-Rex é aproveitar a espaçonave e, após a conclusão de sua missão primária, realizar uma expedição de reconhecimento do astro. A sonda deve iniciar os procedimentos para o retorno à Terra em março próximo, e a cápsula contendo as amostras do Bennu deve reentrar na atmosfera terrestre em setembro de 2023.

A espaçonave em si pode ser desviada para não ter o mesmo fim e então redirecionada ao seu próximo alvo. Curiosamente, ela iniciaria a aproximação ao Apófis em 8 de abril de 2029, apenas seis dias antes da passagem do asteroide pela Terra, em 14 de abril, quando a sonda já estará a 30 mil km do astro. A gravidade do planeta seria usada como a estilingada final, para a nave chegar ao seu destino em 21 de abril.

Por lá, a Osiris-Rex usaria todos os seus instrumentos para esquadrinhar a superfície do astro, do mesmo modo que fez com o Bennu, o que por si só já produziria resultados interessantes. O Apófis é um asteroide do tipo S, rico em silicatos, e o Bennu é do tipo C, rico em carbono. Com isso, os cientistas poderão realizar estudos comparativos bem calibrados das diferenças entre eles.

A sonda também produzirá informações valiosas para a futura defesa da Terra, caso seja preciso montar, mais tarde, um plano para desviar o asteroide, caso seja necessário.

A Nasa ainda está por aprovar esse plano de missão estendida, mas soa como uma barganha: a Osiris-Rex já está no espaço, o que reduz muito o custo da empreitada. E o mesmo deve acontecer com a Hayabusa2, sonda japonesa que trará amostras do asteroide Ryugu no mês que vem, antes de começar sua própria missão estendida a outro destino.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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