Painel independente dá aval a plano de trazer amostras de Marte com robôs

Um painel independente convocado pela Nasa apresentou seus resultados na última terça-feira (10) e julgou que a agência espacial americana está pronta para proceder com a mais ousada missão não tripulada já tentada: um retorno de amostras automatizado de Marte.

É algo como o santo graal da pesquisa marciana, por permitir que pesquisadores usem o arsenal de ferramentas dos laboratórios da Terra a fim de investigar rochas cientificamente promissoras que possam revelar os segredos mais íntimos do passado do planeta vermelho – dentre eles o da potencial existência de vida pregressa naquele mundo.

Nada tão complexo já foi realizado antes. A essa altura, já houve retornos automatizados de amostras da Lua, de asteroides, da cauda de um cometa e até do vento solar. Mas Marte é um desafio muito maior, porque estamos falando de um planeta com atmosfera e uma gravidade apreciável, de modo que não basta apenas pousar; é preciso decolar de lá.

A missão de retorno de amostras marcianas é uma ambição antiga, que tem sido deferida há pelo menos uma década por conta dos desafios que impõe. Isso apesar de ser listada como uma das iniciativas de alta prioridade listadas na Pesquisa Decenal de Ciência Planetária das Academias Nacionais dos EUA para o período 2013-2022.

Agora, finalmente, em uma parceria com a ESA (Agência Espacial Europeia), o cenário se encaminha para virar realidade. E o plano começa com o Perseverance, rover que está a caminho do planeta vermelho e deve chegar lá em fevereiro de 2021. Uma de suas tarefas será colher amostras promissoras e colocá-las em tubinhos, para futuro resgate.

A próxima etapa viria com uma missão conjunta Nasa-ESA, que lançaria, juntos, um pequeno rover-táxi, que pudesse pegar o material originalmente colhido pelo Perseverance, e um módulo de ascensão (basicamente um foguete instalado numa plataforma de pouso). Com a carga embarcada pelo rover, o lançador escalaria até a órbita de Marte, onde se encontraria com um orbitador de retorno, responsável por promover a volta da cápsula com as amostras até a Terra.

Não vai ser simples, barato ou rápido. A boa notícia é que, apesar de todas as dificuldades, a iniciativa foi avaliada como tecnologicamente viável.

O painel independente se debruçou sobre o projeto entre agosto e outubro deste ano e fez 44 recomendações para incrementar as chances de sucesso, indo de aspectos da gestão ao cronograma, passando pelo item mais delicado – o financiamento.

Não há ainda uma etiqueta de preço, mas a missão completa não sairá por menos que 5 bilhões de dólares (sem contar o Perseverance, que custou US$ 2,7 bilhões). Esse é o primeiro palpite das agências, mas o painel sugeriu que tende a ser mais que isso.

O relatório também indicou que lançar o módulo de recuperação e o orbitador de retorno em 2026, como previsto pelas agências, seria prematuro, e o mais razoável seria planejar para 2028. Com isso, se tudo correr bem, as cobiçadas amostras poderão estar aqui no começo da década de 2030.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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