Estudos reconstroem a história das galáxias precursoras da Via Láctea

Os cientistas sabem que galáxias crescem e evoluem por meio de colisões. Mas como decifrar a árvore genealógica da própria Via Láctea, depois de tantas colisões ocorridas nos últimos 12 ou 13 bilhões de anos? Um grupo internacional de astrônomos parece ter encontrado a resposta, olhando para os aglomerados globulares – enxames de estrelas antigas que cercam a nossa galáxia.

A Via Láctea tem cerca de 150 desses, e muitos deles teriam se formado nas galáxias menores que acabariam colidindo para formar nosso lar galáctico atual. Por meio de simulações, a equipe de Diederik Kruijssen, da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, e Joel Pfeffer, da Universidade Liverpool John Moores, acredita ter reconstruído boa parte da história de formação da Via Láctea.

O trabalho deles, publicado no Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, partiu de um conjunto de simulações, E-Mosaics, que fornecem um modelo completo para formação, evolução e destruição de aglomerados globulares.

Partindo das simulações como modelos, eles conseguiram associar as idades, composições químicas e movimentos orbitais dos aglomerados globulares às propriedades de suas galáxias progenitoras, onde eles teriam surgido mais de 10 bilhões de anos antes. Em seguida, passaram a analisar os aglomerados globulares da própria Via Láctea, e assim conseguiram determinar não só quantas estrelas essas galáxias progenitoras tinham, mas também quando elas colidiram com a Via Láctea.

Resultado: ao longo de sua história, nossa galáxia canibalizou pelo menos cinco outras galáxias com mais de 100 milhões de estrelas, e cerca de 15 delas com pelo menos 10 milhões de estrelas. As galáxias progenitoras maiores colidiram com a Via Láctea entre 6 e 11 bilhões de anos atrás. Conforme evidências foram aparecendo dessas antigas galáxias, elas foram ganhando nomes: Kraken, Gaia-Encélado, Sequoia, fluxos Helmi e Sagitário.

Árvore genealógica da Via Láctea construída por Kruiijssen e colegas, com cinco grandes precursoras.

Quase em seguida, um grupo liderado pelo astrônomo brasileiro Ricardo Schiavon, da Universidade Liverpool John Moores, publicou, no mesmo MNRAS, a descoberta de outro fóssil de uma das galáxias canibalizadas – uma progenitora até então desconhecida.

Para isso os pesquisadores não olharam para os aglomerados globulares, mas para as estrelas que povoam o halo galáctico, a região esférica que envolve o disco da nossa galáxia. Usando dados colhidos pelo experimento Apogee, parte da Pesquisa Digital Sloan do Céu (SDSS, na sigla em inglês), os pesquisadores indicaram que uma boa parte delas é resquício de uma antiga galáxia que colidiu com a nossa uns 10 bilhões de anos atrás.

Eles deram a ela o nome de Héracles – em homenagem ao herói lendário grego. De acordo com os pesquisadores, a antiga galáxia Héracles é a responsável por um terço de todas as estrelas do halo da nossa galáxia. 

O que esses dois estudos começam a desenhar com clareza é que a Via Láctea teve um começo atípico, com muitas colisões de grande porte e uma vida mais turbulenta durante seus primeiros bilhões de anos de existência.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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