Sonda Hayabusa2 traz à Terra com sucesso amostras de asteroide
Uma estrela cadente muito especial cruzou o céu da Austrália no último sábado (5). Era a cápsula de retorno da missão japonesa Hayabusa2, que, após seis anos perambulando pelo Sistema Solar, trouxe de volta amostras do asteroide Ryugu para estudo científico detalhado.
O “disco voador” de apenas 40 centímetros e 16 kg fez sua reentrada furiosa na atmosfera terrestre a cerca de 40 mil km/h, mas o escudo térmico aguentou o tranco e o pouso se deu como planejado, auxiliado por paraquedas, na região desértica do sul australiano, próximo a Woomera. Um helicóptero partiu para o resgate, o que aconteceu algumas horas depois. Agora o material será levado de volta ao Japão, onde poderá revelar segredos sobre a formação do Sistema Solar e, quiçá, a origem da vida na Terra.
O Ryugu, alvo da missão, tem cerca de 1 km de diâmetro e pertence à categoria dos asteroides carbonáceos, ou seja, ricos em carbono. Sua origem, como a da imensa maioria dos astros do tipo, remonta à época da formação dos planetas, 4,5 bilhões de anos atrás, e pode ajudar a elucidar a química orgânica então disponível que semeou a Terra e possivelmente viabilizou o surgimento da vida por aqui. É a primeira vez que cientistas terão acesso a um material desse tipo para estudo em laboratório.
Foi uma missão incrível e, diferentemente de sua precursora Hayabusa, praticamente livre de falhas. A Jaxa, agência espacial japonesa, claramente levou a sério a noção de “lições aprendidas” e até mesmo experimentos especulativos transcorreram muito bem.
Ao todo, a Hayabusa2 trafegou por mais de 5,2 bilhões de km. Lançada em dezembro de 2014, ela se encontrou com o Ryugu em 2018, após um sobrevoo da Terra em 2015 para ajuste de trajetória e velocidade.
Em suas operações, a espaçonave lançou um total de quatro minirrovers experimentais em sua superfície, dos quais apenas um não funcionou (pifou antes mesmo de ser usado). Os resultados foram valiosos na busca por formas de explorar a superfície de objetos com baixa gravidade, como é o caso de asteroides.
Para além do sensoriamento remoto, em fevereiro e julho de 2019 a Hayabusa2 realizou dois pousos para coleta de amostras, o segundo dos quais após ter literalmente dado um tiro no asteroide, abrindo uma cratera artificial, para colher material não exposto. Tudo isso para capturar, ao todo, cerca de 100 miligramas de asteroide – quantidade ínfima, valor imenso.
A sonda partiu do Ryugu em 12 de novembro de 2019, iniciando sua jornada de volta à Terra com seus propulsores iônicos, que a trouxeram de volta agora. A cápsula de amostras foi liberada e reentrou na atmosfera, mas a espaçonave em si “errou” nosso planeta, como já era planejado. Ainda restam cerca de 30 kg de xenônio (propelente usado nos motores) dos 66 kg da partida. Meio tanque, o que significa que ainda há muita vida útil a extrair da sonda. Ela agora deve ser direcionada para uma missão estendida, onde visitará dois novos asteroides, o 2001 CC21, em 2026, e o 1998 KY26, em 2031.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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