Astrônomos detectam sinal misterioso vindo de Proxima Centauri

O projeto de busca por inteligência extraterrestre Breakthrough Listen encontrou um sinal intrigante e promissor emitido de Proxima Centauri, a estrela vizinha mais próxima do Sol, a meros 4,2 anos-luz de distância. Algumas características do sinal parecem típicas de uma transmissão artificial, mas os pesquisadores ainda não descartam que seja interferência humana – embora também não tenham encontrado evidências disso.

Antes de alguém estourar um champanhe aí, vale o alerta: não estamos falando de algo que já possa ser descrito como evidência de vida inteligente fora da Terra. Os cientistas do projeto fazem questão de enfatizar que, neste momento, trata-se apenas de um resultado provocante, que precisará ser confirmado de forma independente e terá de passar por análises cuidadosas para descartar um falso positivo causado por interferência terrestre ou mesmo por uma (menos provável) ocorrência natural.

Tendo dado o aviso, vamos à história, sobre a qual inicialmente os pesquisadores nem pretendiam falar até a publicação de um artigo científico, no começo de 2021. Mas é difícil conter o entusiasmo com coisas assim, e o achado acabou chegando aos ouvidos do jornal britânico The Guardian, que publicou uma reportagem a respeito na sexta-feira (18).

A história da detecção começou em 29 de abril de 2019, quando um grupo de pesquisadores iniciou uma bateria de observações com o radiotelescópio de Parkes, na Austrália, para estudar explosões estelares em Proxima Centauri – uma anã vermelha, bem menor do que o Sol, em torno da qual orbita um planeta na zona habitável (a região do sistema propícia para a manutenção de água de forma estável na superfície de um corpo planetário).

O radiotelescópio Parkes, da Austrália, faz parte do maior projeto de busca por inteligência extraterrestre da história , o Breakthrough Listen.(Crédito: CSIRO)

Os dados (um total de 26 horas de escuta distribuídas ao longo de uma semana, 30 minutos de cada vez) serviriam secundariamente à caça de potenciais sinais de origem artificial no âmbito do projeto Breakthrough Listen, financiado pelo magnata russo Yuri Milner desde 2015, a um custo de US$ 100 milhões, com o objetivo de procurar sinais de inteligência extraterrestre.

No fim de outubro de 2020, mais de um ano depois, a análise revelou algo peculiar em meio à cacofonia de rádio emanada de Proxima Centauri naquelas 26 horas: um sinal intenso e de banda bastante estreita, a 982 megahertz.

O mesmo sinal foi achado em cinco sessões seguidas de observação da estrela (cada uma com 30 minutos), ao longo de cerca de três horas. Nos intervalos entre essas sessões, quando o radiotelescópio colhia dados apontado para outra região do céu, o sinal desaparecia. Essa é uma das principais estratégias para eliminar a possibilidade de interferência terrestre (que acontece de monte). Se o sinal aparecesse em duas regiões afastadas do céu na mesma noite de observação, obviamente não estaria vindo do céu. Mas a detecção, designada agora pela sigla BLC1 (Breakthrough Listen Candidate 1), passou por esse teste.

Foi, de fato, o primeiro sinal a passar por todo o escrutínio dos cientistas do projeto, exaurindo as possibilidades mais mundanas para descartá-lo como falso positivo. E tem essa peculiaridade de estar numa faixa de frequência super limitada, o que nunca se viu em qualquer sinal de origem natural (estrelas geram um monte de emissão de rádio, mas nunca em banda estreita).

Por outro lado, ele parece apenas um “tom”, não tem qualquer modulação que possa estar transportando informação adicional. E sua sutil deriva de frequência (potencialmente indicativa do movimento conjunto do ponto de origem e do ponto de recepção do sinal) não parece consistente com um transmissor em órbita de Proxima Centauri, como seria o caso de uma antena localizada em um planeta lá.

Claro, também tem o fato de que ninguém mais replicou essa observação feita em Parkes. A repetição e uma nova detecção do mesmo sinal são pré-requisitos fundamentais para mover o achado da lista dos “promissores” para a lista dos “prováveis”.

Ninguém no Breakthrough Listen no momento sabe explicar a origem do sinal. Mas ninguém também está apostando em alienígenas. “A coisa mais provável é que seja alguma causa humana”, disse à revista Scientific American Pete Worden, diretor executivo do projeto Breakthrough Initiatives, que engloba o Listen. “E, quando digo mais provável, é algo como 99,9%.”

A ciência, contudo, vive de testar hipóteses. O trabalho que virá a seguir é permanecer na escuta, em busca de uma repetição, e ao mesmo tempo escrutinar os dados colhidos, à caça de fenômenos que possam explicar o misterioso “tom” na frequência dos 982 megahertz que pareceu, por cerca de três horas, estar vindo de Proxima Centauri.

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