Projeto com astrônomos amadores estuda segredos da evolução de galáxias
Numa combinação ousada de astronomia profissional e amadora, um grupo de brasileiros está trabalhando para desvendar os segredos mais íntimos das colisões entre galáxias em um projeto colaborativo.
A iniciativa tem a coordenação de Duília de Mello, vice-reitora da Universidade Católica da América (EUA) e pesquisadora associada do Centro Goddard de Voo Espacial, da Nasa, e foi apresentado na última quinta-feira (14), na 237ª Reunião da Sociedade Astronômica Americana (AAS), realizada virtualmente em razão da pandemia. “Apresentamos o projeto e os primeiros resultados, que servem como prova de conceito”, explica a pesquisadora.
A astronomia sempre foi uma ciência que abraça os diletantes. Não foram poucos, na história, os autodidatas e autofinanciados que promoveram seu avanço. Hoje, mesmo com a complexidade crescente das observações e dos resultados, os amadores continuam a ter um papel fundamental, sobretudo em atividades que exigem muito tempo de observação, como por exemplo a descoberta e o monitoramento de asteroides próximos à Terra, ou que demandam mobilidade, como as observações de ocultações de estrelas distantes por astros do Sistema Solar.
A ideia do novo projeto, chamado Deep Images of Mergers, envolve usar a disponibilidade que os astrônomos amadores têm com seus telescópios para promover observações intensivas de objetos distantes.
Nos grandes observatórios profissionais, a disputa por tempo de observação é acirrada. Para os amadores, o equipamento está sempre lá, à disposição, com seu uso limitado apenas por condições meteorológicas. Isso permite a realização de longas observações do espaço profundo, que podem ter resultados cientificamente interessantes.
Para entender como funciona, imagine que telescópios são bacias de luz, e luz dos astros vem “pingando” na direção deles. Há dois jeitos de colher luz suficiente: um é usar uma bacia grande, que pega bastante luz de uma vez; outro é usar uma bacia menor, mas exposta durante um longo tempo. (Claro, o mais incrível é quando você usa uma superbacia num supertempo, e aí aparecem resultados como as imagens de campo profundo do Hubble; mas a disponibilidade de grandes telescópios para isso é bastante limitada.)
Duilia de Mello reuniu inicialmente um time de cinco astrônomos amadores, todos no Brasil: Marcelo Wagner Silva Domingues, Cristóvão Jacques, João Antonio Mattei, Eduardo de Jesus Oliveira e Sergio José Gonçalves da Silva. São eles que estão colhendo as observações iniciais do projeto DIM, por vezes passando mais de 30 horas colhendo luz de objetos distantes.
Entre as primeiras galáxias analisadas estão Centaurus A, Arp 230 e NGC 1052. Durante a reunião da AAS, foram apresentados resultados iniciais da Arp 230 que revelam conchas sucessivas ao redor dela – segundo os pesquisadores, restos de colisões de galáxias antigas. Com a efetividade demonstrada, o plano dos pesquisadores é continuar expandindo as observações para estudar a evolução dessas galáxias e, potencialmente, aumentar também a rede de colaboradores.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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