Equipe acha ‘grávida de Taubaté’ do espaço, sistema raro com seis estrelas
Investigando dados do satélite Tess, da Nasa, um grupo de astrônomos quase caiu para trás ao identificar um raro sistema estelar sêxtuplo. É praticamente o equivalente astronômico da famosa (e infame) grávida de Taubaté, que fingiu estar esperando múltiplos bebês em 2011. Mas é ainda melhor, porque é verdade.
O achado só foi possível porque o sistema está alinhado quase perfeitamente de modo que possamos ver, daqui da Terra, todas as estrelas passando uma à frente da outra, duas a duas. O Tess (sigla inglesa para “Satélite de Pesquisa de Trânsitos de Exoplanetas”) é um satélite dedicado a descobrir planetas fora do Sistema Solar e os identifica registrando reduções temporárias de brilho de estrelas quando planetas passam à frente delas, fenômeno que é chamado de trânsito planetário.
Porém, não é incomum que alguns desses eventos envolvam, em vez de uma estrela e um planeta, duas estrelas. É o que os astrônomos chamam de binárias eclipsantes, e o fenômeno é mais que esperado. Afinal, mais de metade das estrelas da Via Láctea não é solitária, como o Sol, mas tem uma ou mais irmãs.
O surpreendente aqui é o encontro de seis estrelas juntas. E ainda num sistema de tal modo alinhado que permita, daqui, ver eclipses em todas as estrelas. De fato, é a primeira vez que os astrônomos encontram um “sistema estelar sêxtuplo sextuplamente eclipsante”. Soa como uma versão mais sofisticada de “mega master blaster”, mas foi exatamente o que Brian Powell, do Centro Goddard de Voo Espacial, da Nasa, e seus colegas escreveram no título de seu artigo científico, depositado no repositório arXiv.
O sistema estelar TIC 168789840 está a cerca de 2.000 anos-luz daqui e é composto, de fato, por três pares de estrelas. Cada um desses pares têm as estrelas bem próximas, dando uma volta uma ao redor da outra a cada 1,5, 1,3 e 8,2 dias. Completando a festa, a dupla que tem período de 8,2 dias orbita ao redor das outras duas duplas (que estão por sua vez girando uma ao redor da outra), num período longo estimado em 3.000 anos.
Com esse novo achado, são 18 os sistemas sêxtuplos já descobertos, o mais famoso sendo o de Castor, na constelação de Gêmeos, que daqui da Terra é visto a olho nu como uma única estrela, mas uma das mais brilhantes do céu. Esse sistema, por sinal, é bem parecido com a nova descoberta. Mas por lá o posicionamento dos três pares não faz deles binários eclipsantes, o que dificulta a caracterização mais detalhada do sistema.
Os pesquisadores acreditam que observações contínuas de TIC 168789840 podem ajudar a esclarecer os processos de formação e evolução de sistemas estelares múltiplos. E eles querem continuar de olho nele para ver se as órbitas dos pares em si fazem com que eles também eclipsem uns aos outros do ponto de vista da Terra.
Até hoje, para além dos 18 sêxtuplos, os astrônomos só encontraram dois sistemas séptuplos, Nu Scorpii e Ar Cassiopeiae – e este é o recorde atual de maior número de estrelas já vistas em um mesmo sistema.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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