Elon Musk trava queda de braço com governo dos EUA para testar foguete

O que seria de Elon Musk sem uma treta, né? A mais recente é com a FAA (Administração Federal de Aviação), agência responsável por licenciar lançamentos de foguetes comerciais nos Estados Unidos. No coração da confusão, o desenvolvimento do programa Starship, que, segundo a SpaceX, é o passaporte da humanidade para a colonização de Marte.

Não chega a ser surpreendente que haja conflito burocrático com um projeto de um tipo nunca realizado antes. A empresa de Musk está, a um só tempo, aprendendo como fazer um foguete, desenvolvendo os meios para produzi-lo em massa e testando em voos suas tecnologias altamente inovadoras, tudo isso em rápida sucessão.

Resumindo em poucas palavras: a SpaceX cobra da FAA que seja ágil no licenciamento de voos que envolvem um prédio de 18 andares ser elevado até uns 10 km de altitude e depois deixá-lo despencar de lá, não sobre o oceano, mas sobre o solo do Texas, numa tentativa de realizar um pouso suave na última hora.

Da última vez que a FAA autorizou uma tentativa assim, em dezembro passado, com o protótipo SN8, deu quase tudo certo – um feito incrível para um primeiro voo, mesmo levando em conta o histórico de sucesso da SpaceX com pousos verticais de foguetes. Mas, ainda assim, terminou numa bola de fogo.

Até onde se sabe, o episódio não causou danos a propriedades ou pessoas, e este é o foco da FAA na liberação de testes. O que não se sabe é por que motivo a agência ainda assim viu problemas com o protótipo SN9, que faria exatamente o mesmo perfil de voo. O impasse levou Musk (que, a despeito do inegável brilhantismo, às vezes se comporta como uma criança mimada) a iniciar uma queda de braço com a agência.

Na última quinta-feira (28), a SpaceX preparou o SN9 para voo. Realizou todos os procedimentos pré-lançamento e tentou convencer a FAA na marra a liberar a tentativa, até a última badalada. A burocracia resistiu à pressão, chegando a anunciar de moto próprio o adiamento do lançamento. Musk foi ao Twitter despejar impropérios. A um seguidor, disse: “(A) divisão espacial da FAA tem uma estrutura regulatória fundamentalmente quebrada. Suas regras são feitas para um punhado de lançamentos descartáveis por ano de umas poucas instalações governamentais. Sob essas regras, a humanidade nunca chegará a Marte.”

No dia seguinte, teatrinho similar, com a SpaceX preparando o SN9, e a FAA negando autorização. Num misto de fluxo de trabalho e provocação, a empresa tirou do hangar e colocou numa segunda plataforma o protótipo SN10, em antecipação a um voo próximo. A fila está aumentando, grita a cena.

A FAA está de fato num processo de mudar sua regulamentação para torná-la mais adequada aos novos tempos. Mas, numa queda de braço com a lei, Musk só poderia vencer numa república das bananas. À SpaceX, neste momento, só resta fornecer a documentação pedida pela agência e aguardar pacientemente a liberação. Ou providenciar sua mudança para o Brasil, onde tudo se pode mediante uma módica quantia.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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