Com nova técnica, astrônomos acham potencial planeta em Alfa Centauri
O sonho de visualizar diretamente planetas como a Terra fora do Sistema Solar ficou um pouquinho mais próximo, com uma nova técnica desenvolvida por um grupo internacional de astrônomos. Como demonstração, eles a usaram para investigar o sistema de Alfa Centauri (o mais próximo de nós, a 4,3 anos-luz daqui) e podem já ter encontrado um planeta por lá.
O projeto, denominado NEAR (sigla inglesa para Novas Terras na Região de Alfa Centauri), envolveu a instalação de atualizações em um dos instrumentos do VLT, o Telescópio Muito Grande, no Chile. A câmera de infravermelho médio recebeu um novo coronógrafo, destinado a bloquear a luz das estrelas imageadas e permitir, com isso, a visualização de objetos menos brilhantes em seus arredores. Além disso, ela foi usada em conjunto com um dos telescópios do VLT que tinha um espelho secundário maleável, que compensa, em tempo real, deformações da imagem causadas por turbulência atmosférica.
Os pesquisadores liderados por Kevin Wagner, da Universidade do Arizona, estimaram que seria possível detectar planetas, no limite extremo, com até três vezes o diâmetro da Terra nos arredores da zona habitável da maior das duas estrelas principais, Alfa Centauri A, com 100 horas de observação.
Ainda não seria um planeta rochoso, como o nosso, mas já começa a se aproximar disso. Eles estimam que, com telescópios de próxima geração, com espelho principal de cerca de 30 metros (em contraste com o VLT, que tem 8 metros), deve ser fácil detectar um planeta como a Terra em Alfa Centauri com apenas algumas poucas horas.
A campanha de observação do sistema foi feita entre maio e junho de 2019, e então os pesquisadores tiveram de eliminar da imagem os ruídos gerados pelo próprio telescópio e seus arredores (quase tudo gera calor, ou seja, emissão em infravermelho, que contamina a detecção). Feito isso, restou um brilho persistente a uma distância de 1,1 unidade astronômica da estrela A, que pode ser ser um planeta com diâmetro entre 3 e 11 vezes o da Terra. Algo entre um mininetuno e um júpiter. Só que observações por outros métodos descartaram um equivalente joviano. Então, se for mesmo um planeta, será menor que Saturno.
Os cientistas destacam ainda que, dada a novidade da técnica, não dá para descartar que a detecção seja algum artefato de imagem não previsto. Eles fizeram de tudo para contornar isso, até mesmo testando a inserção artificial de planetas na imagem para ver se o processamento pegava, e tudo faz parecer que é para valer – um planeta ou talvez um disco de poeira ao redor da estrela. A única forma de confirmar a real identidade do objeto, a partir de agora, é fazer novas observações. Mas não há dúvida de que é um resultado inicial bastante promissor, que abre caminho também para a observação de outras estrelas próximas, como Epsilon Eridani, Epsilon Indi e Tau Ceti. Os resultados foram publicados na Nature Communications.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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