Rastreadores de satélites suspeitam que Amazônia-1 pode estar fora de controle
Em pelo menos duas passagens, rastreadores de satélites nos EUA e na Itália fizeram captações intermitentes, separadas por quase sete horas, de sinais transmitidos pelo Amazônia-1, satélite brasileiro lançado no último domingo (28). A irregularidade do sinal parece indicar que a espaçonave está girando fora de controle.
O Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) não se pronunciou oficialmente sobre a questão. A AEB (Agência Espacial Brasileira) diz apenas que aguarda pronunciamento do Inpe. Em um grupo privado de discussão no aplicativo Telegram, engenheiros envolvidos com o projeto declaram que não estão autorizados a falar sobre o assunto, mas minimizam a gravidade da situação. Especialistas ouvidos pelo Mensageiro Sideral sugerem que o padrão indica problemas. “Não parece bom” é a frase corrente.
Enquanto aguardamos uma declaração oficial, vale o lembrete: mesmo que de fato o satélite esteja girando fora de controle, não quer dizer que a situação seja irrecuperável. Decerto haverá tentativas de enviar comandos e usar o sistema de controle de atitude (giroscópios no interior da espaçonave que permitem reorientá-la) para estabilizá-lo.
Cerca de 45 minutos após o lançamento, na madrugada de domingo, a estação de rastreamento em solo brasileiro captou sinais do satélite, indicando uma inserção orbital bem-sucedida. Não se mencionou então a possibilidade de que ele estivesse girando de forma imprevista ou descontrolada. O problema pode ter se originado logo após a liberação do satélite pelo lançador indiano PSLV (as imagens indicam uma suave rotação incomum), ou algum comando enviado à espaçonave pode ter iniciado o processo. A essa altura, sem informações oficiais, não há como especular o que houve exatamente e quais as possibilidades de trazê-lo de volta a um estado nominal.
A primeira indicação de problema veio dos EUA, quando, por volta das 11h55 (de Brasília) desta terça-feira (2), o grupo USA Satcom tuitou: “Passagem do Amazônia-1 na banda S. Parece estar capotando… talvez não tão bom para banda X” (indicando que a rotação poderia dificultar a captação).
Até aí, poderia ser um problema do receptor ou uma coincidência em que um teste de reorientação do satélite estivesse ocorrendo naquele momento. Só que, quase sete horas depois, às 18h14, da Itália, o rastreador indicado como supertracker fez o mesmíssimo diagnóstico: “Passagem do Amazônia-1. Recebido em banda S e em banda X. Nada na banda X e um sinal de capotamento na banda S.”
Projetado para tirar fotos do solo com resolução de 64 metros por pixel, o Amazônia-1 precisa estar estabilizado, com a câmera apontada adequadamente, para realizar seu trabalho. Se estiver mesmo capotando, e isso não puder ser revertido, a missão pode muito bem estar diante de seu precoce final. Torçamos para que não.
A iniciativa, sonhada há três décadas e realizada nos últimos 13 anos, custou R$ 380 milhões, incluindo o lançamento com os indianos. Além de ser o primeiro satélite de imageamento da Terra 100% nacional, é o primeiro uso da Plataforma Multimissão, desenvolvida pelo Inpe para baratear o custo de futuras espaçonaves.
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