Proteger economia e emprego não é genocídio; fazer campanha pelo vírus é
Podemos discutir semântica, se é genocídio, assassinato em massa, massacre, extermínio, e, honestamente, isso não levaria a nada. Mas o que precisa ficar claro, sobretudo para a pequena parcela (ainda) racional dentre os bolsonaristas, é que o presidente tem protagonismo na agressividade da pandemia no Brasil.
Primeiro, façamos a distinção. Ninguém aqui está renomeando preocupação com economia e empregos como crime contra a humanidade. Bolsonaro pode e deve se preocupar com a economia. Pode até se opor a lockdowns. Isso faz parte do jogo da gestão; alguns atores pendem para medidas mais duras, outros para menos, e a sintonia fina é delicada.
O crime do presidente não é querer manter comércio aberto e defender o ganha-pão das pessoas. É a campanha que ele faz – ativa, constante, incansável – para estimular o contágio. Quanto mais, melhor.
Ações envolvidas no plano criminoso: estimular aglomerações, evitar máscaras que reduzem a disseminação e adotar drogas ineficazes para dissipar qualquer medo da doença. Caso isso não esteja sendo eficaz, dá mais um empurrão, chamando de covardes os que tentam evitar o contágio.
Nada disso é proteger a economia. É fazer campanha pelo vírus. É querer que as pessoas se infectem, depois infectem os outros e, quem sabe, se isso for possível, atinjamos imunidade coletiva pela via mais dura – em que morrem todos os mais vulneráveis.
Em que dia Bolsonaro virou para os seguidores e disse, “pessoal, precisamos manter a economia girando, mas vamos com todos os cuidados: distanciamento social, todo mundo de máscara, sem aglomeração, para proteger a vida também”? Pergunta retórica.
Nem mesmo países que flertaram com a imunidade coletiva pelo contágio, como Reino Unido e Suécia, foram criminosos a ponto de encorajar a disseminação do vírus. E essa postura, que já era insana, agora é inconcebível, quando há alternativa segura e eficaz. Vacina. E o que o presidente faz? Reincide, semeando dúvidas, atrasando a aquisição de imunizantes e criando conflito com entidades federadas que agem diante da negligência da União.
Bolsonaro não faz campanha pela manutenção da atividade econômica. Ele quer mais que as pessoas aglomerem, não usem máscara, contagiem-se logo (não é dele a frase de que tomou a melhor vacina que tem, o próprio vírus?) e morram logo os vulneráveis (todo mundo um dia, né?). No meio do caminho, colapso do sistema de saúde e sofrimento indescritível – que, no entanto, não o afeta, imune à empatia.
Os psiquiatras que se encarreguem de diagnosticar, e Haia que trate de julgar. Só lamento que milhares de pessoas já tenham pago com suas vidas por essa insanidade. E, infelizmente, vem muito mais por aí.Não se engane: neste momento, goste você ou não do presidente, a disputa é Jair Bolsonaro e SARS-CoV-2 contra a rapa. Em jogo, nossa sobrevivência.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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