Nasa anuncia duas novas missões a Vênus, com dois orbitadores e uma sonda atmosférica

Agora é oficial: após mais de três décadas de abandono, a Nasa está voltando ao planeta Vênus, com duas missões robóticas. Chamadas DaVinci+ e Veritas, elas representam as primeiras investidas da agência espacial americana no segundo mundo a contar do Sol, nosso vizinho planetário mais próximo, desde a missão Magellan (Magalhães), lançada em 1989 e encerrada em 1994.

Vênus tem tamanho parecido com a Terra, mas sofre com uma atmosfera cem vezes mais densa e um efeito estufa acachapante, que eleva a temperatura média do planeta a 460 graus Celsius. Ele é meio como o “gêmeo malvado” do nosso mundo, e um lembrete desconfortável do que pode dar errado com planetas que, em outros aspectos, são bem similares ao nosso.

Contudo, nem sempre a história foi essa. É bem possível que, no começo, 4 bilhões de anos atrás, quando o Sistema Solar era jovem, Vênus fosse mais amigável, talvez abrigando até mesmo oceanos. A missão DaVinci+, com seu orbitador, estudará a atmosfera venusiana justamente atrás de pistas da existência pregressa desses mares hoje desaparecidos.

O projeto também contará com uma sonda atmosférica, que atravessará o invólucro de gases que envolve Vênus e investigará sua composição. O interesse por esses resultados, bem como os obtidos em órbita, cresceu em tempos recentes, depois que um grupo da Universidade de Cardiff apresentou, no ano passado, evidências de que um composto chamado fosfina pudesse estar presente nas nuvens venusianas, a uma altitude em que a pressão atmosférica e a temperatura são amenas. A detecção, bem como seu significado, ainda são muito debatidos pela comunidade de astrobiologia, mas há quem acredite que possam ser sinais de vida microbiana ainda hoje proliferando no ar venusiano.

Já a outra missão escolhida, Veritas, é um orbitador equipado com um poderoso radar para investigar a superfície venusiana e suas estruturas geológicas. Ele deve repetir o esforço de mapeamento realizado pela Magellan, mas desta vez com resolução bem maior. (Vale lembrar que Vênus é totalmente recorberto, o tempo todo, por nuvens espessas, de modo que o único meio de mapear a superfície em alta resolução a partir da órbita é com sistemas de radar.)

As duas missões foram selecionadas como parte do programa Discovery, que a Nasa promove para realizar sondas interplanetárias com objetivos restritos e custo mais modesto. Seu orçamento, fora o lançamento, não pode exceder US$ 500 milhões. Vale comparar com o rover marciano Perseverance, que custou à agência, no total, US$ 2,8 bilhões, numa missão classificada como Flagship (capitânia).

É a segunda vez que ambas chegam à fase final do processo seletivo; na rodada passada, em 2017, as duas acabaram preteridas por missões destinadas a asteroides (Lucy e Psyche, que devem voar em 2021 e 2022). Na concorrência, elas bateram outras duas propostas, o orbitador IVO, destinado à lua Io, de Júpiter, e a missão Trident, que faria um sobrevoo de Tritão, a maior das luas de Netuno. (Na primeira fase de seleção, em 2020, o Mensageiro Sideral apostou que pelo menos uma venusiana ia ganhar.)

A Nasa diz que os lançamentos devem ocorrer entre 2028 e 2030. Ainda está longe. Mas o fato é que a agência volta seu olhar para Vênus, depois de longas décadas. Depois da Magellan, o planeta recebeu os orbitadores Venus Express (da ESA, Agência Espacial Europeia), lançada em 2005 e destruída em 2015, e Akatsuki (da Jaxa, japonesa), lançada em 2010 e ainda operacional, embora em uma órbita que limita seus resultados científicos. Isso além de visitas ocasionais de espaçonaves de passagem, como a BepiColombo, cujo destino final é Mercúrio, mas fez um sobrevoo de Vênus no ano passado e fará outro neste ano.

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