Estudo sugere que metano em lua de Saturno pode ser indicativo de vida
A pequena Encélado encontrou uma “fosfina” para chamar de sua. Um grupo de pesquisadores sugere que a presença de metano nas quantidades observadas nas plumas de água que são ejetadas da lua de Saturno não pode ser explicada por qualquer mecanismo conhecido, salvo vida.
O resultado lembra muito as conclusões dos pesquisadores liderados por Jane Greaves, da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, que detectaram fosfina nas nuvens de Vênus. Eles também não cravaram que era um sinal de vida, mas indicaram não conhecer mecanismo alternativo capaz de explicar as quantidades.
O novo estudo, liderado por Régis Ferrière, da Universidade do Arizona, nos EUA, e Stéphane Mazevet, da Universidade Paris Ciências & Letras, na França, foi publicado na revista Nature Astronomy e segue a trilha dos achados da sonda Cassini, que em 2017 causou furor ao cruzar as plumas e detectar nelas a presença de hidrogênio molecular e metano.
Sabe-se que, sob a crosta congelada de Encélado, há um oceano de água líquida, em contato direto com um leito rochoso. É de lá que partem as plumas, ejetadas a partir de fissuras no gelo. Na Terra, fumarolas no fundo do oceano são o lar de muitas formas de vida metanogênicas: elas consomem hidrogênio e despejam metano. Na lua saturnina, encontramos ambos, o que fez muitos evocarem o oceano subsuperficial como habitável. Mas daí a habitado, são outros 500. Até porque há outros processos de geração de metano que não envolvem formas de vida, como a interação de água com certos minerais, no processo conhecido como serpentinização.
O trabalho de Ferrière e Mazevet consistiu em tentar determinar a origem do metano sem precisar ir até lá para checar. Em vez disso, o grupo modelou matematicamente a probabilidade de que diferentes processos, dentre eles metanogênese biológica, ou seja, a produção de metano por formas de vida, pudessem explicar o resultado colhido pela Cassini.
A pergunta central era: a quantidade seria compatível com processos puramente geológicos? E a resposta dos pesquisadores é “não” –mas só até onde sabemos. Eles apontam que das duas uma: ou está rolando metanogênese por micróbios no interior de Encélado, ou há algum fenômeno desconhecido, sem igual na Terra, capaz de gerar a substância.
Na soma dos resultados, podemos olhar o copo meio cheio ou meio vazio. Por um lado, é empolgante que tenhamos já detectado compostos que podem sinalizar a presença de vida em tantos astros (fosfina em Vênus, metano em Encélado e em Marte). Por outro lado, as conclusões são mais especulativas do que gostaríamos até o momento. Para todos os casos, ainda é inteiramente possível, quiçá provável, que a explicação dispense atividade biológica. Em todos, o que falta são mais observações. Será preciso enviar novas sondas até lá, se quisermos desfazer esses mistérios.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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