Instrumento está perto de poder detectar gêmeo da Terra, diz estudo brasileiro

Apesar de termos ouvido muito nos últimos anos sobre a descoberta de exoplanetas com potencial para serem habitáveis ou similares à Terra, a detecção de um análogo perfeito do nosso mundo ainda não aconteceu. Mas estamos chegando cada vez mais perto, como mostra um novo estudo conduzido majoritariamente por pesquisadores brasileiros.

O trabalho, que tem como primeiro autor Yuri Netto, do IAG-USP (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo), foi aceito para publicação no Astronomical Journal. Ele teve por objetivo testar o nível de precisão do Espresso, novo espectrógrafo instalado no VLT, telescópio do ESO (Observatório Europeu do Sul) no Chile. Esse instrumento foi projetado para a busca de análogos terrestres, ou seja, exoplanetas com a massa da Terra, numa órbita similar à da Terra, orbitando uma estrela como o Sol.

Para fazer isso, pelo método de medição de velocidades radiais (a famosa detecção do bamboleio das estrelas conforme planetas giram ao redor delas e as atraem para cá e para lá), seria preciso atingir uma precisão de 10 cm/s. (Pense nisto: medir um movimento de meros dez centímetros a cada segundo de uma estrela localizada a anos-luz daqui.)

O espectrógrafo antecessor do Espresso, o Harps, instalado em La Silla, também no Chile, tem precisão de 1 m/s. Ou seja, a ambição é melhorar em dez vezes as medidas disponíveis. E a essa altura ele já está quase lá.

O grupo conduziu 24 observações da estrela HIP 11915, espalhadas ao longo de 60 noites. O astro, localizado a 175 anos-luz daqui na constelação da Baleia, foi escolhido por ser um gêmeo solar que tem um planeta análogo a Júpiter, descoberto com o Harps, também por brasileiros, em 2015, e está agora numa fase de baixa atividade estelar.

Após as observações e o pós-processamento (destinado a “limpar” o ruído, produzido principalmente pela atividade da estrela), os pesquisadores obtiveram medidas seguras de velocidade radial com média de 24 cm/s. Isso estabeleceu, portanto, a qualificação mínima do Espresso –na pior das hipóteses, precisão de uns 20 cm/s. Pode parecer frustrante, mas é um ótimo resultado.

A expectativa é que, quanto mais observações sejam feitas, maior seja a precisão atingida. E 60 noites, como nesse estudo inicial, é um período bem restrito para a busca de exoplanetas: afinal, para confirmar uma detecção, é preciso que o planeta complete ao menos uma volta inteira ao redor da estrela, o que no caso de um análogo perfeito da Terra exigiria uns 360 dias.

Com mais observações e aperfeiçoamentos do processamento, é bem possível que o Espresso atinja a ambicionada faixa de sensibilidade dos 10 cm/s. E a estrela HIP 11915, lembram os pesquisadores, seria um ótimo lugar para seguirmos olhando. Afinal, até onde sabemos, a similaridade com o Sistema Solar é notável. Quem sabe não é lá que encontraremos o primeiro análogo perfeito da Terra?

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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