Em rally marciano, rover dos EUA sofre revés e chinês ganha missão estendida
No rally marciano de 2021, o rover americano Perseverance está na liderança, mas com alguns sobressaltos pelo caminho. Em compensação, sua contraparte chinesa, o Zhurong, acaba de ganhar uma missão estendida depois de sobreviver aos primeiros 90 sóis (como são chamados os dias marcianos, com duração um pouco maior que os da Terra, com cerca de 24 horas e 40 minutos).
Não é de fato uma corrida (os dois nem estão no mesmo lugar em Marte), mas há uma disputa por prestígio entre as duas maiores potências espaciais. O Perseverance chegou primeiro ao planeta, tendo pousado com sucesso na cratera Jezero, em 18 de fevereiro. Desde então, ele já percorreu 2,17 km –distância nada desprezável.
O Zhurong, por sua vez, pousou em 14 de maio em Utopia Planitia, e cruzou 889 metros até 15 de agosto, quando acabou sua missão inicial. Pouco menos da metade do que já marcou o hodômetro do Perseverance, em metade do tempo que o rover da Nasa teve em Marte. Por esse ângulo, é uma disputa apertada. E reflete o quanto a tecnologia evoluiu em termos de inteligência artificial para autonavegação –o que torna o avanço pelo terreno mais dinâmico e menos dependente de comandos enviados da Terra.
Para efeito de comparação, o recordista de distância percorrida em Marte é o rover Opportunity, que avançou por 45,16 km. Mas ele o fez em terreno particularmente benigno e ao longo de mais de 14 anos em atividade (2004-2018). Seu irmão gêmeo Spirit, em condições menos clementes, operou por seis anos (2004-2010) e andou apenas 7,73 km. Não será surpresa, pelo andar da carruagem, se tanto o Perseverance como o Zhurong baterem esse recorde. Mas também não há garantias.
Em Utopia Planitia, onde pousou o rover chinês, o terreno é mais favorável. Já na cratera Jezero, durante algum tempo cogitou-se até que fosse inviável pousar, considerados os perigos oferecidos pelas formações geológicas. Em compensação, as recompensas científicas podem ser riquíssimas.
Em termos de instrumentação, ambos os veículos estão operando muito bem e prometem produzir grandes resultados científicos. Mas o Perseverance sofreu em sua primeira tentativa de colher e armazenar uma amostra de Marte. Escolhida a rocha, uma broca foi usada para extrair um pedaço, que no entanto esfarelou e acabou não sendo armazenado corretamente no tubo designado para isso. A equipe planeja tentar de novo, com outra rocha, em breve. A ideia é que um dia essas amostras possam ser trazidas de volta à Terra (algo que os chineses também pretendem fazer, mas não por meio do Zhurong).
Em breve, contudo, teremos uma parada no rally. No início de outubro, Marte passará por trás do Sol com relação à Terra, o que impede a comunicação entre os dois planetas. Os dois rovers serão colocados em modo de “espera”, até que o contato possa ser restabelecido, na segunda metade do mês. O que virá depois disso? Só o tempo dirá.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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