Astrônomos de Cambridge propõem nova categoria de exoplanetas habitáveis

Pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, sugerem que a busca por planetas com vida não deve se limitar a mundos similares ao nosso e cravam que uma categoria em particular desses objetos é candidatíssima para a primeira detecção de biossinais: os planetas hiceânicos.

Nome estranho, né? Demorei um pouco para entender de onde veio. Aguenta aí que eu chego lá. Muito já foi dito sobre os planetas oceânicos, que seriam um pouco maiores que a Terra e totalmente recobertos por espessas camadas de água, capazes de fazer nossos mares parecerem piscininhas.

E aí a categoria seguinte, até então pouco prestigiada, seria composta por planetas ainda maiores, que, além de serem ricos em água, teriam atmosferas extensas em que predomina o hidrogênio, similares às de planetas gigantes gasosos.

Em ambos os casos, estamos falando de mundos com tamanho intermediário entre a Terra (o maior dos mundos solares rochosos) e Netuno (o menor dos gasosos, com diâmetro cerca de quatro vezes maior que o terrestre). Não existe nada assim no Sistema Solar, mas os astrônomos já encontraram centenas de planetas com diâmetros nessa faixa intermediária, e são geralmente referidos como superterras (com diâmetro até 60% maior que o da Terra) ou mininetunos (se maiores que 60%).

Até recentemente, apesar de mais numerosos que as superterras, os mininetunos eram considerados candidatos ruins a abrigar vida. Especulava-se que a pressão e a temperatura sob sua atmosfera rica em hidrogênio fossem excessivamente altas para permitir a existência de vida.

O jogo começou a virar no ano passado, quando a equipe de Nikku Madhusudhan, em Cambridge, mostrou em um estudo publicado no Astrophysical Journal Letters que o mininetuno K2-18 b, descoberto pelo satélite Kepler, da Nasa, a despeito de ser 2,6 vezes maior que a Terra, poderia, em tese, ter um oceano habitável sob sua atmosfera hidrogenada. Hidrogênio+oceânico, hiceânico. Rá.

Agora, em um novo artigo, desta vez no Astrophysical Journal, Madhusudhan e seus colegas Anjali Piette e Savvas Constantinou, apresentam de forma mais ampla a categoria dos planetas hiceânicos. Em tese, mundos com até 2,6 vezes o diâmetro terrestre podem guardar condições habitáveis, e a chamada zona de habitabilidade (região ao redor da estrela em que a quantidade de radiação é compatível com a existência de corpos d’água de forma estável em um planeta) seria bem mais larga para esses mundos do que para análogos terrestres.

E o que mais empolga é que muitos dos potenciais planetas hiceânicos poderão ter sua atmosfera estudada em detalhes muito em breve pelo Telescópio Espacial James Webb, que a Nasa espera lançar até o fim do ano. Observações do K2-18 b, por sinal, já estão programadas entre as primeiras a serem feitas pelo novo satélite.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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