Dupla publica ‘mapa do tesouro’ em busca de nono planeta no Sistema Solar

A dupla de pesquisadores que defende a hipótese de que há um nono planeta no Sistema Solar, bem além de Netuno, acaba de divulgar um novo estudo que descrevem como um “mapa do tesouro”: uma predição que indicaria onde no céu, com maior probabilidade, deve estar o suposto objeto.

A ideia do chamado Planeta Nove foi apresentada pela primeira vez por Mike Brown e Konstantin Batygin em 2016. À moda da descoberta de Netuno, que teve sua existência predita matematicamente após a observação de certos desvios inesperados na órbita de Urano, a dupla do Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia) evocou a necessidade de um nono planeta com grande massa, numa órbita bem excêntrica (achatada) e afastada do Sol, para explicar um certo padrão de distribuição nas trajetórias de diversos KBOs, sigla inglesa para objetos do cinturão de Kuiper (região que abriga os planetas-anões Plutão e Éris, entre outros objetos menores, resquícios da formação do Sistema Solar).

A diferença entre os dois casos é que os astrônomos John Couch Adams e Urbain Le Verrier fecharam os cálculos para a descoberta de Netuno em 1846, e o planeta foi achado por Johann Galle, do Observatório de Berlim, em 23 de setembro daquele ano. Já o tal Planeta Nove segue não encontrado.

Há discussão na comunidade astronômica se o tal agrupamento de KBOs que indicaria a existência do tal planeta é real mesmo ou é fruto de viés observacional (varreduras descobrindo objetos de forma preferencial em razão de para onde estão olhando). No novo artigo, aceito para publicação no Astronomical Journal, Brown e Batygin reafirmam que não há viés suficiente para explicar os padrões e refinam o que seriam os parâmetros básicos do astro hipotético.

Carta celeste indica localização mais provável do Planeta Nove. (Crédito: M. Brown, K. Batygin)

Combinando simulações e análises probabilísticas, eles dizem que o Planeta Nove tem ao redor de 6,2 vezes a massa terrestre, guarda uma distância média do Sol de 380 unidades astronômicas (ou seja, está 380 vezes mais distante do Sol que a Terra) e tem periélio (ponto mais próximo do Sol) a 300 UA. Já o afélio (ponto mais distante) estaria a uns 500 UA.

Como ninguém o achou ainda, o pressuposto é que ele esteja perto do afélio, quando seria menos brilhante. De acordo com a dupla, o planeta deve estar numa faixa do céu próxima ao plano da Via Láctea. É lá que os dois conduzem sua busca, com o observatório Subaru, no Havaí. Até agora, nada. Mas o novo estudo indica que o planeta estaria ao alcance de vários projetos de varredura de céu inteiro, dentre eles a que será conduzida pelo Observatório Vera Rubin, nova instalação no Chile que deve iniciar suas atividades entre 2022 e 2023.

“Penso na figura [com a carta celeste de probabilidade de presença do astro] como o mapa do tesouro do Planeta Nove”, diz Mike Brown. “Hora de começar a caçada, meus colegas piratas”, arremata, em tom bem-humorado.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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