Inspiration4 termina com sucesso e abre a fila de voos orbitais privados

Salvador Nogueira

Com uma amerissagem bem-sucedida na costa da Flórida no começo da noite de sábado (18), terminou de forma bem-sucedida a Inspiration4, primeira missão orbital tripulada privada. Mas Jared Isaacman, o bilionário que pagou a empreitada, e seus colegas de tripulação (Siam Proctor, Hayley Arceneaux e Chris Sembroski) são apenas os primeiros em uma fila que já começa a se alongar, iniciando para valer o processo de ocupação comercial da órbita terrestre baixa. Os próximos voos já estão no horizonte imediato.

A ambição tem mais de década. Quando a Nasa decidiu tocar um programa comercial de transporte de tripulações, em 2010, o plano era ter pelo menos duas empresas que pudessem atender à demanda da agência e, ao mesmo tempo, viabilizar a criação de um mercado privado de voo espacial. Uma vez desenvolvidos os veículos, a serem operados pelas companhias contratadas, a Nasa seria apenas um potencial cliente, dentre vários.

Em 2014, o processo seletivo amadureceu com a seleção de duas empresas, SpaceX e Boeing, para desenvolverem suas próprias naves, por, respectivamente, US$ 2,6 bilhões e US$ 4,2 bilhões. A SpaceX chegou na frente com a Crew Dragon, que realizou seu primeiro voo tripulado para a Nasa em 2020. A Boeing, com sua Starliner, teve mais problemas e ainda não chegou lá, mas espera-se que possa acontecer no ano que vem.

A Inspiration4 foi a quarta missão orbital tripulada da SpaceX e a primeira contratada por um ente privado. Mas já há fila. A companhia Axiom Space, cofundada e dirigida por Michael Suffredini, ex-gerente da Nasa, tem outros quatro voos contratados com a SpaceX. O primeiro deles, a ser realizado no início de 2022, tem tripulação fechada e será comandado pelo ex-astronauta da Nasa Michael López-Alegría. Será o primeiro voo privado à Estação Espacial Internacional (ISS), e a Axiom pagará “aluguel” à Nasa pelo uso dos serviços de bordo lá. Os outros três devem acontecer entre 2022 e 2023.

A Axiom também tem contrato com a Nasa para enviar dois módulos à estação, entre 2024 e 2025, no que seria o prelúdio para a construção de um complexo próprio em órbita. É outro objetivo confesso da agência espacial que estações privadas tomem o lugar da ISS após o fim da sua vida útil, em 2030, liberando recursos para a exploração do espaço profundo, com missões à Lua e a Marte.

Nesse primeiro momento, tudo segue muito caro. Cada voo de Crew Dragon sai por cerca de US$ 200 milhões. Agora imagine que o próximo foguete da SpaceX, o Starship, mantenha o custo de operação da dupla Falcon 9/Dragon, mas levando 100 passageiros de cada vez. O custo por assento cairia dos US$ 50 milhões atuais para US$ 2 milhões. E aí termine com a meta aspiracional de Elon Musk: cada lançamento do Starship por US$ 2 milhões. Nesse cenário, uma passagem individual sairia por US$ 20 mil. Ficção? Pelo contrário; é um futuro que já começa a bater à nossa porta.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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