Astrônomo diz ter encontrado possível candidato a nono planeta no Sistema Solar
Escarafunchando dados antigos do satélite de infravermelho Iras, um astrônomo britânico à procura do hipotético Planeta 9 diz ter encontrado um possível candidato. O apelido foi dado a um astro que supostamente existiria além de Netuno, conforme predito por uma dupla de pesquisadores nos EUA em 2016.
A história toda começou quando Michael Brown e Konstantin Batygin, astrônomos do Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia), apontaram um estranho alinhamento nas órbitas de alguns objetos transnetunianos, pedregulhos residentes nas profundezas do Sistema Solar. De acordo com eles, o alinhamento só poderia ser explicado pela influência gravitacional de um nono planeta, maior que a Terra, instalado numa órbita superlonga e oval.
Desde então, pesquisadores têm procurado pelo tal Planeta 9, sem sucesso. E a estratégia adotada por Michael Rowan-Robinson, do Imperial College de Londres, foi fazer a caçada nos dados do Iras, satélite da Nasa que fez varreduras por boa parte do céu nos anos 1980.
Rowan-Robinson criou um protocolo para reanalisar as imagens em busca de potenciais candidatos que possam ter passado batidos nos estudos originais dos dados. Após reprocessar todo o pacote, ele chegou a um único potencial candidato remanescente. Ele estaria ao redor das coordenadas celestes 319 graus de ascensão reta, 60 graus de declinação (para quem não está familiarizado com a terminologia, esses são análogos celestes de longitude e latitude, respectivamente).
Se o tal candidato não for algum artefato de observação, ele poderia corresponder a um planeta localizado a mais de 200 unidades astronômicas daqui (1 UA é a distância média Terra-Sol, 150 milhões de km).
“Uma órbita de encaixe sugeriria uma distância de 225 UA (mais ou menos 15 UA) e uma massa 3 a 5 vezes a da Terra”, escreveu Rowan-Robinson, em artigo aceito para publicação no periódico Monthly Notices of the Royal Astronomical Society. Ele reconhece que provavelmente o candidato não é um objeto real, mas indica que talvez valha a pena apontar telescópios naquela direção para ver se há de fato algo por lá. “Uma busca em um anel de rádio 2,5 por 4 graus centrados ao redor da posição de 1983 em comprimentos de onda visíveis e do infravermelho próximo pode ser valiosa.”
PROVAVELMENTE NADA
Embora seja o maior entusiasta da busca pelo Planeta 9, Mike Brown é o primeiro apontar que este não é o astro predito por ele e Batygin em 2016. “O candidato estaria em uma órbita totalmente inconsistente com nossas predições e não seria capaz de perturbar gravitacionalmente o Sistema Solar distante dos modos que sugerimos”, diz. “Mas, claro, isso não quer dizer que não possa ser real!”
O pesquisador aproveita a oportunidade para fazer uma distinção entre uma descoberta de oportunidade e uma real predição científica. Ele lembra que Plutão foi descoberto em 1930 por Clyde Tombaugh exatamente do mesmo modo. O astrônomo então procurava o Planeta X, predito por Percival Lowell, mas acabou achando acidentalmente Plutão. Isso não faz de Plutão o predito Planeta X (que, por sinal, não existe).
Da mesma maneira, se o tal candidato agora for real, não será o chamado Planeta 9 de Brown e Batygin. “Se alguém descobrir um planeta além de Netuno inconsistente com nossas predições, nós não o predissemos e se trata de uma descoberta totalmente não relacionada (e incrível)”, explica o pesquisador.
Esse é o rigor que separa uma hipótese científica das afirmações de qualquer maluco que diga “há um planeta lá fora em algum lugar” (e está cheio de gente assim por aí). Por isso, já dá para cravar que Rowan-Robinson, ao procurar o tal Planeta 9, não o encontrou. Mas ainda pode ter encontrado um nono planeta no Sistema Solar — embora as chances joguem contra. A conferir.
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