Teste de míssil antissatélite russo gera nuvem de lixo espacial perigoso
Fogo no parquinho. A Rússia decidiu na última segunda-feira (15) que era um bom dia para testar um míssil antissatélite e explodir um de seus próprios artefatos espaciais. Funcionou. Agora, em vez de termos um grande pedaço de lixo espacial numa órbita bem definida, temos mais de 1.500 pequenos detritos, além de centenas de milhares não rastreáveis, voando por órbitas ligeiramente diferentes. A maioria vai desaparecer em um ano, reentrando na atmosfera terrestre. Alguns poderão ficar lá por mais de uma década. E todos oferecem algum perigo a outros satélites na mesma região do espaço.
A “vítima” foi um satélite listado internacionalmente como Cosmos 1408, já desativado há muito tempo, tendo sido lançado à órbita pela antiga União Soviética nos idos de 1982. Até aí, zero perdas. Mas teve “barata voa” na Estação Espacial Internacional. Ao detectar a nuvem de detritos gerada pelo teste, os centros de controle em Houston e Moscou pediram aos astronautas e cosmonautas que se alojassem preventivamente em suas cápsulas. A ideia era deixá-los prontos para uma evacuação rápida caso o complexo orbital fosse atingido por algum detrito capaz de causar despressurização ou outros danos sérios.
A primeira passagem foi tranquila. Nada aconteceu. A segunda também, e aí os tripulantes já foram liberados para voltar à estação, mas mantendo as comportas entre os módulos fechadas para reduzir riscos. A cada uma hora e meia, mais ou menos, o complexo orbital voltava a fazer aproximação da nuvem de lixo, bem ao sabor do filme “Gravidade”. Felizmente não houve uma reação em cadeia como a vista no longa-metragem.
O problema é que o risco existia. O Departamento de Estado americano classificou o teste russo como uma atitude irresponsável. O Ministério da Defesa russo disse que os detritos mantiveram quilômetros de distância da estação e não ofereceram perigo. Mas o episódio nos lembra de como estamos lidando com um ambiente frágil. Um pedaço de lixo em órbita é algo que permanece lá por muito tempo, como um projétil viajando a 27 mil km/h. Mesmo sendo pequeno, pode causar grandes danos.
E o maior temor é o de que uma nuvem de detritos atinja outros satélites, cada um gerando suas próprias nuvens, desencadeando uma sequência de eventos que terminaria com a Terra envolva por uma camada perigosíssima de lixo espacial. Isso teria o potencial para eliminar a viabilidade de manter satélites operacionais. Esqueça telescópios espaciais, telecomunicações, GPS, meteorologia… Prejuízo incalculável.
Não tem bonzinho na história. Semana passada foi a Rússia. Mas em anos recentes vimos testes similares sendo realizados por EUA, Índia e China. A prosseguirmos nessa escalada, um dia as coisas ainda vão acabar mal. As nações espaciais deveriam estar concentradas em mitigar, e não potencializar, os perigos do lixo espacial. Antes que só nos reste lamentar.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
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