Tráfego pesado na órbita terrestre baixa

Momentos de tensão marcaram o início da semana passada, quando um satélite de observação terrestre da ESA (Agência Espacial Europeia) teve de manobrar para evitar risco de colisão com um satélite de telecomunicação da empresa SpaceX. Afora a manobra, nada se passou, mas trata-se de um exemplo gritante de como o espaço orbital ao redor da Terra precisará de controle cada vez mais cuidadoso nos próximos anos. Entram em cena as grandes constelações de telecomunicações em órbita baixa.
Há dois grandes empreendimentos em andamento no momento, com objetivos similares, mas escalas um pouco diferentes. De um lado a OneWeb, empresa que se emparceirou com a gigante europeia Airbus para desenvolver uma linha de montagem a fim de fabricar, de saída, 648 satélites de pequeno porte e, assim, construir uma intrincada rede de telecomunicações. Em fevereiro deste ano, a empresa fez seu primeiro lançamento e colocou seis satélites em órbita.
Isso, por si só, é uma revolução, pois pela primeira vez vemos satélites sendo feitos em ritmo industrial de produção. Mas o tamanho da constelação OneWeb parece até modesto, se comparado ao projeto rival, Starlink, da SpaceX. Serão ao todo 12 mil satélites. Para que se tenha uma ideia, há hoje, ao todo, cerca de 5 mil satélites em órbita, dos quais apenas 2 mil são espaçonaves em funcionamento. Ou seja, a SpaceX, sozinha, quer mais que triplicar o número.
Foram dois protótipos ao espaço em fevereiro e, no primeiro lançamento dedicado exclusivamente ao projeto, em maio, 60 satélites subiram de uma vez. O que quase colidiu com o Aeolus, satélite da ESA, foi ao espaço nessa bateria. E o fato de já termos tão cedo um risco de impacto mostra o tamanho do drama. Imagine quando o número escalar de 60 para 600, e depois para 6.000.
Tanto OneWeb quanto Starlink pretendem oferecer serviços de internet de banda larga via satélite em escala global. Esteja você no Alasca, em Alagoas ou na Antártida, sempre haverá cobertura de sinal, graças às vastas constelações. Mas o investimento é bilionário, e as duas empresas estão numa corrida para ver quem consegue se tornar operacional primeiro, já que não é possível fornecer serviços com regularidade antes que muitos satélites estejam em órbita.
Será interessante acompanhar esses desenvolvimentos, que terão de ser seguidos por uma melhora no controle de tráfego espacial, similar ao que temos hoje para a malha aérea. Ou isso, ou os satélites vão começar a trombar lá em cima, com efeitos potencialmente catastróficos de acúmulo de lixo espacial.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
Siga o Mensageiro Sideral no Facebook, no Twitter e no YouTube