Magnata russo anuncia com Stephen Hawking projeto para realizar missão interestelar

Salvador Nogueira

Estamos a caminho das estrelas. Ou, pelo menos, alguém já topou gastar os primeiros US$ 100 milhões para chegarmos lá. A iniciativa foi anunciada nesta terça-feira (12) em Nova York pelo magnata russo Yuri Milner, exatos 55 anos depois que outro Yuri, o Gagarin, se tornou o primeiro humano a ir ao espaço.

Chamado de Breakthrough Starshot, o programa tem apoio de nomes de peso, como Stephen Hawking, o físico, e Mark Zuckerberg, o nerd. Curtiu? O gerenciamento fica por conta de Pete Worden, ex-diretor do Centro Ames de Pesquisa, da Nasa. O objetivo é vermos a primeira espaçonave interestelar não-tripulada chegar a Alfa Centauri, a estrela mais próxima daqui, ainda nesta geração — e “apenas” 20 anos depois de lançada.

Pode parecer muito, mas não é. Para cobrir os 4,3 anos-luz que nos separam de lá em duas décadas, seria preciso atingir 20% da velocidade da luz. Já com as tecnologias atuais de propulsão, a mesma viagem consumiria dezenas de milhares de anos.

O método para a viagem é similar ao recentemente defendido pelo físico Philip Lubin, da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara. Mas, em vez de usar lasers em órbita da Terra, o complexo de canhões seria construído em solo.

Um satélite convencional então levaria ao espaço uma série de nanossondas minúsculas, com velas levíssimas e toda a tecnologia embarcada instalada num único chip. Essas seriam nossas primeiras embaixadoras interestelares.

Disparado da Terra, o superlaser poderia acelerá-las a 20% da velocidade da luz em questão de minutos.

Embora a física envolvida no processo seja toda conhecida, o trabalho ainda exigirá grandes esforços de pesquisa e desenvolvimento. A Breakthrough Starshot se compromete a divulgar todos os seus resultados publicamente e convida a comunidade internacional a cooperar no projeto. Afinal de contas, para uma iniciativa dessa magnitude, US$ 100 milhões é um bom começo, mas é também apenas isto: um começo.

Lembrando que esta é apenas a mais nova das ideias alavancadas pelo programa Breakthrough Initiatives, que Milner começou a apresentar no ano passado. Naquela ocasião, ele anunciou o financiamento do maior programa de busca por inteligência extraterrestre da história.

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Comentários

  1. UAU!!!! Agora sim acho que o projeto decola!!!
    Faltava um cérebro para comandar a operação toda, mas pelo que vejo isto deixou de ser um problema, né? 😀

  2. Pela glória da humanidade, pelo envio das nanossondas para os confins do universo!
    Meu voto é sim!!!!

  3. Salvador, parece que tem havido um burburinho por aí sobre o sinal Wow!? Podemos nos animar?

      1. É por isso que vão investir US$ 100 milhões. Se já estivesse pronto não precisava investir.

  4. Acredito que não dá pra colocar tudo que está no projeto dentro de um chip com peso de 1g (uma moeda de 1 centavo pesa 2,45g). Há um limite na miniaturização em circuitos eletrônicos, esse limite já é conhecido e não vai mudar com o passar do tempo, pois num transistor miniaturizado a falta de um átomo já ferra tudo. Também, tem o limite relacionado à potência para transmitir os dados (rádio ou laser, fumaça…), porque vai consumir muita energia.
    Sem contar que, além da parte de processamento, ainda precisa de uma fonte de energia, sensores, transmissor de dados e blindagem contra intempéries.

    1. É por isso que vão investir US$ 100 milhões. se já estivesse pronto não precisava investir….

      1. Paulo, acho que esse investimento não vai gerar tecnologia nenhuma que mude as leis da física. Tudo isso em 0,001 kg, sem chance.

        1. Eles falam em nanonaves mas não existe um limite para o peso. Não nesta fase do projeto. As naves poderão ser maiores mas a ideia é que sejam da ordem de grandeza de um chip eletrônico. E dá sim para colocar bastante coisa dentro. Os desafios não estão limitados pela física mas pela tecnologia atual.

    2. De fato, por mais q imaginemos que a tecnologia tudo supera, existe o limite fisico para as coisas…
      O Fernando esta sendo coerente com a análise, e disto o que mais me intriga é a transmissão da informação, a distância é longe demais, para uma sonda tão pequena gerar um sinal (seja lá do que for) teria de de ter uma potência muito grande, coisa que miniaturas não tem.
      Por outro lado, se dominarem nestes próximos anos a tecnologia de transmissão quântica (pelo emaranhamento quantico) pode ser uma saída para a comunicação…

      1. Pallando,

        Novas tecnologias começam com o lançamento da ideia. Quanto à energia para transmissão de informação, podemos dizer que 1 fóton é capaz de cruzar a galáxia desde que não seja absorvido por um obstáculo no caminho. Como nós conseguimos ver Alfa Centauro, significa que muitos e muitos fótons percorrem a distância sem problema nenhum. Então é viável transmitir alguma coisa com baixa potência. A energia de 1 único fóton é muito pequena. O problema é conseguir a condição de onda plana não dissipativa para o fóton (basicamente o princípio do laser) que é totalmente direcional. Assim, se este fóton não for precisamente direcionado (e bota preciso nisto) para a antena receptora, ele não será captado.

      2. emaranhado quântico não é o santo graal para comunicações instantâneas à distâncias incomensuráveis…

        por favor, tentem entender o princípio: um emaranhado quântico precisa nascer num mesmo lugar, num tempo específico, e a partir deste ponto no tempo e espaço começar a ser separado, com sua coerência tentando ser preservada o tempo todo. nesta operação, de se afastar uma parte do emaranhado do outro, os princípios básicos da relatividade precisam ser preservados. sim, podemos separar emaranhados quânticos e conseguir comunicação instantânea (teoricamente) entre pontos separados por 10 mil anos luz de distância. mas levaria muito tempo para separarmos as partes numa distância de 10 mil anos luz. na melhor das hipóteses (se conseguirmos chegar bem próximos da velocidade da luz) levaríamos pouco mais de 10 mil anos para separas os pares de transmissor-receptor baseado em emaranhado quântico…

    3. acredite, dá sim!!! ainda mais se evitarmos desperdícios de microprogramação! muitos dos recentes bugs de microprocessadores se devem ao fato dos projetistas terem relaxado neste aspecto, acharem que tinham toda a liberdade do mundo para consumirem os recursos (supostamente ilimitados) dos chips, e esquecerem o princípio básico de só usar o estritamente necessário. básico no princípio da microcomputação, mas indevidamente negligenciado hoje em dia na era dos supercomputadores que cabem em nossos bolsos…

      não é porque temos hoje recursos aparentemente “ilimitados”(que, vejam bem, parecem mas NÃO SÃO) que podemos negligenciar os princípios básicos consolidados nos primórdios desta tecnologia…

  5. Olá Salvador!
    Com minha idade dificilmente verei os resultados dessa possível odisseia humana.
    Muitas dúvidas me vem a cabeça, e se possível gostaria de mais informações em futuros artigos teus sobre o assunto.
    A saber:
    Como será possível gerar um sinal para mandar dados de uma distância tão grande de volta para a Terra.
    A potência requerida deverá ser enorme, e não será qualquer pequena fonte de energia a ter essa potência.
    Também será necessário um sistema de telescópio com uma boa resolução para identificar os possíveis planetas a serem visitados.
    Novamente não será um pequeno telescópio e nem uma pequena câmera digital a fazer tal empreitada.
    E me pergunto como esse dispositivo poderá ser controlado e direcionado tanto ao longo da jornada, como ao atingir seus objetivos, para se aproximar dos possíveis planetas no sistema de estrelas?
    Apesar das dúvidas e dificuldades a importância do projeto é de extrema relevância para a humanidade.
    Abraços,
    Paschoal

    1. Comunicação, suponho, pode de dar por pulsos de laser. A sonda pode ter câmeras, mas obviamente não conseguiria tirar fotos lindas dos planetas — mas até uma foto da fotosfera da estrela já seria um avanço significativo! Por fim, a sonda teria de se pilotar sozinha com inteligência artificial, uso de pequenos propulsores e suas próprias velas.

      1. Caraca!! propulsores? no vácuo!? Não precisa de combustível, algum propelente? E o limite de peso?

        1. fotons, apesar de não possuírem massa, carregam momento. por isso também são capazes de acelerar corpos, desde que convenientemente focalizados para seus centros de massa… 🙂

      2. Caraca!! propulsores? no vácuo!? Não precisa de combustível, algum propelente?
        E o limite de peso?

      3. O princípio das transmissões a longas distâncias é baseado nas ondas TEM (transversal eletromagnéticas). Neste tipo de onda, o campo magnético é exatamente perpendicular ao campo elétrico. Assim a dissipação de energia, com o deslocamento da frente de onda, é nulo e a onda, hipoteticamente, poderia atravessar longas distâncias sem perder energia. O laser é um tipo de onda TEM com frequência na luz visível. Assim, a comunicação via laser poderia resolver o problema. Mas ai surge outro problema. Uma frente de onda TEM é extremamente colimada e direcional. Assim, para chegar à Terra, o alinhamento teria de ser perfeito, mirando a antena receptora.

  6. pensando melhor, acredito que a própria viagem seja tão importante quanto o objetivo.
    estaríamos durante estes 20 anos percorrento uma região completamente desconhecida. acreditamos que não existe nada nela, apenas vácuo interestelas, mas… não temos a mínima certeza disto! quem sabe analizando os dados que a nanosonda for coletanto durante a viagem não possamos ter alguma luz sobre do que se tratam tanto a matéria escura quanto a energia escura, hein?

  7. Salvador,

    Depois que eu li o seu artigo sobre a síntese do RNA por meio de radiação ulta violeta num ambiente espacial, tenho para mim que a vida é bem mais comum do que pensávamos ser. É quase como se o cosmos conspirasse para a vida surgir. As variáveis da equação Drake para mim são muito mais favoráveis a vida agora.

    Não seria temerário enviar qualquer material biológico para mundos tão distantes, especialmente aqueles com alguma condição de habitabilidade, porque, muito provavelmente, deve haver alguma forma de vida nativa se desenvolvendo lá, mesmo que não detectemos prontamente.

    A minha ideia é, aonde pode haver vida, ela existirá. Aposto fortemente minhas fichas que vamos encontrar algo em Marte ou nas luas oceano de Júpiter e Saturno. 😉

    1. PS: esse comentário era para vir na sequência do seu comentário que citava Freeman Dyson Risos. 😉

    2. Oi, Victor! Imagine pequenas naves com grandes asas de borboleta voando 20 anos no espaço gélido, a temperaturas de (menos)270 graus! Não deve sobrar nada do que possa, eventualmente, ter escapado de um processo de esterilização enorme a ser feito antes do lançamento…

      Mas sua preocupação é válida! 🙂

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