Mensageiro Sideral https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br De onde viemos, onde estamos e para onde vamos Sat, 04 Dec 2021 19:09:39 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Anéis de Saturno são novos, indica sonda https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/01/17/aneis-de-saturno-sao-novos-indica-sonda/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2019/01/17/aneis-de-saturno-sao-novos-indica-sonda/#respond Thu, 17 Jan 2019 21:38:12 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2015/08/Saturn_Equinox1-e1440985362135-180x156.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8589 As principais joias do Sistema Solar — os famosos anéis de Saturno — são uma aquisição recente, revelam dados da sonda Cassini. De acordo com os resultados colhidos durante o Grand Finale da missão, em 2017, as estruturas feitas de minúsculos fragmentos de gelo se formaram entre 10 milhões e 100 milhões de anos atrás. É um piscar de olhos geológico.

Embora a incerteza seja nada desprezável (um fator 10), é a essa altura inquestionável que os anéis não se formaram junto com o planeta, há 4,5 bilhões de anos, como durante muito tempo se pensou.

A conclusão, apresentada na edição desta semana da revista científica americana Science, só foi possível porque a Cassini conseguiu, durante suas órbitas finais, fazer a delicada “pesagem” dos anéis, estimando sua massa.

Durante a imensa maioria dos quase 14 anos que a sonda passou orbitando Saturno (ela chegou lá em 2004), suas voltas ao redor do planeta abarcavam também os anéis. Isso na prática implicava medir a gravidade conjunta do sistema.

Para a fase final da missão, contudo, já com o combustível nas últimas, os cientistas resolveram ser mais ousados e fazer sobrevoos rasantes do planeta, passando entre o topo das nuvens e os anéis — 22 ao todo. Nessas passagens, era possível distinguir entre a gravidade do planeta (puxando para um lado) e a dos anéis (muito mais fraca, mas puxando para o outro). Sabendo a intensidade da força gravitacional exercida pelos anéis, tornou-se possível estimar sua massa.

Já se sabia que, para os anéis serem antigos, eles precisariam ter muita massa. Caso contrário, a degradação gradual já os teria feito desaparecer. E eis que os resultados indicaram que ele tem pouca massa, o que significa que é recente.

“Com esse trabalho, a Cassini cumpre uma meta fundamental de sua missão: não só determinar a massa dos anéis, mas usar a informação para refinar modelos e determinar a idade deles”, disse em nota Luciano Iess, da Universidade de Roma, autor principal do trabalho.

O resultado se encaixa bem com outros trabalhos, baseados em dados da Cassini e outros colhidos em solo, que sugerem que os anéis estão se degradando rapidamente e devem desaparecer em mais 300 milhões de anos.

Ele também é compatível com análises de mecânica celeste que sugeriam a impossibilidade de que as luas saturninas mais internas tivessem uma origem antiga, com a mesma idade do planeta.

É bonito ver quando as diferentes peças do quebra-cabeça se encaixam todas para contar a mesma história. E mais intrigante ainda é imaginar o que havia em Saturno antes dos anéis — todo um sistema de luas internas que deve ter em algum momento colapso por uma reação em cadeia de colisões, produzindo os anéis, parte dos quais coalesceram novamente para formar as atuais luas internas, dentre elas a apaixonante Encélado, uma bolinha de 500 km de diâmetro com um oceano habitável de água líquida em seu interior.

Se imaginarmos que Encélado é recente, temos aí uma chance menor de encontrarmos vida por lá. Talvez ainda não tenha dado tempo para ela se formar. Em compensação, temos uma boa chance de flagrar a química imediatamente precursora da origem à vida, ou mesmo talvez os primeiros passos da evolução biológica, a essa altura já apagados na Terra.

Siga o Mensageiro Sideral no Facebook, no Twitter e no YouTube

 

]]>
0
Anéis de Saturno vão desaparecer com o tempo, diz novo estudo https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/12/17/aneis-de-saturno-vao-desaparecer-com-o-tempo-diz-estudo/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/12/17/aneis-de-saturno-vao-desaparecer-com-o-tempo-diz-estudo/#respond Mon, 17 Dec 2018 19:18:22 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/12/saturn-100million-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8463 Dizem que os diamantes são eternos, mas o mesmo não se pode dizer dos majestosos anéis de Saturno. Um novo estudo sugere que em mais uns 300 milhões de anos eles podem desaparecer.

O resultado foi publicado por James O’Donoghue, do Centro Goddard de Voo Espacial da Nasa, e seus colegas na revista científica Icarus e é consistente com dados colhidos pela sonda Cassini pouco antes de mergulhar na atmosfera de Saturno, em 2017.

A Cassini já havia verificado a forte precipitação de partículas provenientes dos anéis no planeta, algo que chamaram de “chuva de anel”, e o novo trabalho obtém corroboração à distância, com observações feitas pelo telescópio Keck, em Mauna Kea, no Havaí.

Sabe-se que a radiação ultravioleta do Sol pode desgastar as partículas dos anéis, e então os campos magnéticos as conduzem para o planeta. As novas observações, baseadas na emissão de luz por íons de hidrogênio, sugerem que o fluxo de gelo perdido para a atmosfera de Saturno está entre 432 e 2.870 kg por segundo. “Presumindo que essa taxa de perda continue, os anéis terão desaparecido em 292 milhões de anos”, escrevem os autores.

Os resultados parecem se encaixar bem com a noção — cada vez mais forte — de que os anéis de Saturno não vieram “de fábrica” com o planeta, mas foram produzidos por uma sequência catastrófica de colisões de um antigo sistema de luas há cerca de 100 milhões de anos.

A reorganização desse material teria produzido não só os anéis, mas também as luas mais internas hoje a orbitar Saturno, dentre elas a pequenina Encélado. (É por essa razão que acho mais difícil encontrarmos vida em Encélado do que em Europa, lua de Júpiter; embora ambas tenham oceanos habitáveis sob sua crosta de gelo, a lua saturnina parece ser bem jovem, e a joviana, em contraste, é tão velha quanto a Terra.)

Claro que há um bocado de incertezas, e é impossível no momento cravar que os anéis vão sumir. Isso porque, além de a perda de material não ser totalmente compreendida, a taxa pode não ser constante e ainda há que se levar em conta fontes de novas partículas. (Sabemos, por exemplo, que Encélado despeja água no espaço por meio de gêiseres, e que essa água congela na forma de partículas que então são incorporadas a um dos anéis.)

Ainda assim, é notável enxergar “transformação” no Sistema Solar — um lembrete de que até mesmo na escala astronômica tudo é circunstância. O planeta com anéis de hoje (estou falando com você, Saturno!), um dia não o será mais; um planeta habitável ontem (estou falando com você, Marte!), hoje é um deserto seco.

E, claro, não custa lembrar que a Terra é apenas mais um planeta, sujeito às mesmas transformações…

Siga o Mensageiro Sideral no Facebook, no Twitter e no YouTube

]]>
0
Anéis de Saturno perdem 10 toneladas por segundo para o planeta, diz estudo https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/10/08/aneis-de-saturno-perdem-10-toneladas-por-segundo-diz-estudo/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2018/10/08/aneis-de-saturno-perdem-10-toneladas-por-segundo-diz-estudo/#respond Mon, 08 Oct 2018 05:00:24 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2018/10/cassini-saturno-concepcao-320x213.jpg https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=8205 A cada segundo, cerca de 10 toneladas de material dos famosos anéis de Saturno mergulham no interior do planeta. E essa é apenas uma das descobertas recém-realizadas pelos cientistas com os dados da última fase da missão Cassini, encerrada no ano passado.

Um pacotaço de seis artigos científicos sobre o Grand Finale da sonda americana foi publicado na mais recente edição do periódico científico Science. Material complementar com ainda maior profundidade saiu ao mesmo tempo no periódico Geophysical Research Letters.

A maior parte dos resultados diz respeito à composição dos anéis e sua interação com a atmosfera do segundo maior planeta do Sistema Solar. Em suas últimas órbitas, a sonda Cassini realizou diversos voos rasantes sobre o planeta, passando no estreito vão entre o anel mais interno e o topo das nuvens.

Com isso, os instrumentos da espaçonave puderam “saborear” partículas dos próprios anéis, analisando sua composição. Os pesquisadores encontraram compostos orgânicos complexos, silicatos, metano, amônia, monóxido de carbono, nitrogênio e dióxido de carbono  — além, é claro, de água, sabidamente o principal componente das incontáveis partículas que perfazem os belos anéis saturninos.

Outro aspecto que surpreendeu nessa “chuva de anel” é o tamanho das partículas. Em geral elas têm tamanho nanoscópico, ou seja, medido em milionésimos de milímetros. Estão mais para “fumaça” do que para grãos, o que indica que algum processo — ainda desconhecido — quebra as partículas dos anéis em fragmentos ainda menores antes que elas mergulhem dentro do planeta.

O trabalho também revelou que há um cinturão de radiação até então desconhecido próximo ao planeta, que faz intersecção com o anel mais interno, e que os próprios anéis têm uma ligação de natureza elétrica com o planeta, com a formação de uma corrente entre eles e a atmosfera saturnina.

Os dados apresentados pela Nasa confirmam o que já se desconfiava: os anéis de Saturno estão paulatinamente sendo erodidos e podem um dia desaparecer. Mas e quanto ao passado deles? Quando foram formados? São novos? São antigos? Os dados da Cassini podem conter a resposta, conforme os cientistas sejam capazes de estimar, a partir deles, a massa total existente nos anéis. Esse resultado muito esperado, contudo, não foi objeto dos novos estudos. Mas calma lá, tem muito chão pela frente. Os dados colhidos pela sonda durante seu Grand Finale ainda darão pano para manga, trazendo tanto respostas quanto novas perguntas sobre o belo e misterioso Saturno.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

Siga o Mensageiro Sideral no Facebook, no Twitter e no YouTube

]]>
0
Astronomia: Top Five do espaço, 2017 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/12/25/astronomia-top-five-do-espaco-2017/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/12/25/astronomia-top-five-do-espaco-2017/#comments Mon, 25 Dec 2017 04:00:50 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/12/retrospectiva-2017-180x101.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7227 Entre mundos habitáveis e vagabundos interestelares: confira o Top 5 do espaço em 2017.

5. VAGABUNDO INTERESTELAR
A equipe do projeto Pan-STARRS fez em outubro uma descoberta sem precedentes: pela primeira vez viu-se um bólido celeste proveniente do espaço interestelar, apenas de passagem pelo Sistema Solar. O misterioso astro, chamado ‘Oumuamua, tem uma forma incomum, muito alongada, e causou espanto entre os pesquisadores.

4. A ERA DOS FOGUETES USADOS
No dia 30 de março, uma nova era da astronáutica foi inaugurada, quando a empresa americana SpaceX realizou o segundo voo de um primeiro estágio de foguete previamente usado. Espera-se que esse seja apenas o começo de uma revolução tecnológica que deve tornar o acesso ao espaço muito mais barato.

3. SURFE NAS ONDAS GRAVITACIONAIS
Em 17 de agosto, os detectores LIGO, nos EUA, e Virgo, na Europa, captaram as ondas gravitacionais geradas pela colisão de duas estrelas de nêutrons — evento que produziu um sinal luminoso observado também por telescópios ópticos. Foi o início da chamada astronomia multimensageira e um ótimo modo de comemorar o Prêmio Nobel em Física de 2017, dado pela pioneira detecção das ondas gravitacionais, feita dois anos antes.

2. SETE TERRAS E UM DESTINO
Em fevereiro, a Nasa anunciou a descoberta de um sistema planetário a apenas 40 anos-luz de distância que tem nada menos que sete planetas rochosos — e todos eles, em tese, poderiam ter água em estado líquido na superfície. O sistema Trappist-1 será um alvo preferencial para a busca por vida extraterrestre com a próxima geração de telescópios, já a partir de 2019.

1. VIDA LONGA À CASSINI
Após mais de 13 anos estudando o planeta Saturno, seus anéis e suas luas, a sonda Cassini encerrou sua missão em 13 de setembro, num espetacular mergulho na atmosfera do gigante gasoso. No começo do ano, ela havia revelado que o oceano de Encélado, uma pequenina lua congelada saturnina, tem todos os ingredientes para abrigar vida. E, embora a missão tenha chegado ao final, é certo que os dados colhidos permitirão novas descobertas por muitos e muitos anos.

BÔNUS: O QUE MAIS?
Confira alguns dos eventos e descobertas que chamaram a atenção em 2017, mas não conseguiram bater em importância os cinco elencados acima, como a descoberta do buraco negro supermassivo mais distante (e antigo) já visto, a hipótese de que dunas podem explicar sinais tidos antes como de água corrente em Marte, a supernova que insiste em não morrero grande eclipse solar de agosto, a descoberta de um anel no estranho planeta anão Haumea, os resultados da distribuição da matéria escura do projeto Dark Energy Survey, a detecção de um sistema planetário na estrela análoga solar Tau Ceti, a volta de um experimento brasileiro à Estação Espacial Internacional graças ao projeto Garatéa, os primeiros resultados científicos da sonda Juno em Júpiter, o lançamento bem-sucedido do não tão bem-sucedido (até agora) satélite geoestacionário brasileiro, a descoberta de que o Sistema Solar reside num pequeno ‘oásis’ galáctico, as primeiras potenciais chuvas de meteoros identificadas por astrônomos brasileiros, a revelação de que a matéria escura tinha menos influência sobre as galáxias no passado do Universo, a descoberta, pela sonda Dawn, de que Ceres tem criovulcões de água ativos e o indício, obtido por lentes gravitacionais, de que o Universo está se expandindo mais rápido que o esperado.

A coluna “Astronomia” é publicada às segundas-feiras, na Folha Ilustrada.

Acompanhe o Mensageiro Sideral no Facebook, no Twitter e no YouTube

]]>
52
Nasa está em dúvida entre colher amostra de cometa e mandar drone a lua de Saturno https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/12/21/nasa-esta-em-duvida-entre-colher-amostra-de-cometa-e-mandar-drone-a-lua-de-saturno/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/12/21/nasa-esta-em-duvida-entre-colher-amostra-de-cometa-e-mandar-drone-a-lua-de-saturno/#comments Thu, 21 Dec 2017 04:27:14 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/12/caesar-dragonfly-180x77.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=7215 E você que achava que uma dúvida cruel era casar ou comprar uma bicicleta. A Nasa anunciou nesta quarta-feira (20) os dois projetos finalistas na disputa por uma única vaga no topo de um foguete num lançamento em meados da próxima década. Um deles ambiciona fazer o primeiro retorno de amostras do núcleo de um cometa, e o outro quer colocar um drone para voar pelos céus de Titã, a maior das luas de Saturno. Qual deles é o seu favorito?

A disputa faz parte do processo seletivo de um programa chamado New Frontiers, que escala as missões de médio porte da agência, com custo ao redor de US$ 1 bilhão. Nessa mesma classe estão grandes hits, como a New Horizons, que foi a Plutão, e a Juno, que explora Júpiter, além da Osiris-Rex, que vai estudar o asteroide Bennu a partir do ano que vem.

Caso você esteja curioso, a Nasa tem três classes de missões não tripuladas. As mais poderosas são as Flagships, que custam um caminhão de dinheiro — vários bilhões de dólares — e são definidas pela própria agência espacial. Nessa categoria entram, por exemplo, a Cassini e o jipe marciano Curiosity.

Na outra ponta, estão as da classe Discovery, que são as mais “baratinhas”, com custo ao redor de meio bilhão de dólares “porcada”.

No planejamento da agência, costuma sair uma Flagship por década, uma New Frontiers a cada cinco ou seis anos, e uma Discovery a cada dois ou três anos. E tanto as New Frontiers quanto as Discovery são selecionadas por meio de competições: cientistas lideram equipes propondo as missões e entram numa batalha para ver quem agrada mais ao comitê de seleção da Nasa.

Sabe como é, o Sistema Solar é um lugar bem grande, há muito a explorar e conhecer, mas o dinheiro disponível é finito. Há de se escolher prioridades. As duas propostas selecionadas agora já são vencedoras, deixando outras dez pelo caminho. Mas só há um foguete esperando por elas na próxima década. A definição de qual vai voar sai em meados de 2019.

Dê uma olhada nas duas e decida por quem torcer.

Concepção artística da missão CAESAR, que deseja colher amostras do cometa 67P e trazer de volta à Terra. (Crédito: Nasa)

A CAESAR O QUE É DE CAESAR
Uma das finalistas quer visitar um velho conhecido — o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko. Você talvez se recorde dele, depois que a missão europeia Rosetta passou três anos, entre 2014 e 2016, estudando-o. Rolou até o histórico pouso do módulo Philae.

A ideia é pegar de onde a Rosetta terminou, colhendo uma amostra do núcleo do Chury e trazendo-a de volta à Terra para análise. E não deixa de ter apelo retornar a um corpo celeste já tão estudado — teremos a oportunidade de aprender como sua superfície se transforma após mais algumas voltas ao redor do Sol. Se pá, poderemos até tirar um foto do Philae, se ele aguentar o tranco preso ao cometa até lá.

A missão tem por objetivo investigar a rica química orgânica presente nos cometas e ver o quanto eles podem ter contribuído ao semear a Terra com compostos potencialmente precursores da vida, além de água. Daí o nome CAESAR, sigla em inglês para Exploração e Retorno de Amostras de Astrobiologia de Cometa. (A Nasa já colheu amostras da cauda de um cometa, com a sonda Stardust, mas não do núcleo cometário.)

O cientista-chefe da missão é Steve Squyres, que também foi o líder da missão dos jipes marcianos Spirit e Opportunity, e a espaçonave em si é fortemente baseada na Osiris-Rex, que colherá amostras do asteroide Bennu e as trará de volta à Terra. É, portanto, uma aposta bastante segura em termos de chance de sucesso.

Conceito da missão Dragonfly, que deseja explorar o intrigante mundo Titã, a maior das luas de Saturno. (Crédito: Nasa)

UMA LIBÉLULA EM TITÃ
A Dragonfly é uma missão como nenhuma outra na história da exploração espacial. É basicamente um drone para voar pelos céus de Titã, a maior das luas de Saturno, e assim explorar diversas regiões da superfície separadas por centenas de quilômetros.

De fato, se há um lugar no Sistema Solar para onde devíamos mandar um drone, é para Titã. Sua atmosfera é mais densa que a da Terra, o que ajuda a gerar empuxo com rotores, e sua gravidade é bem menor que a da Terra, permitindo voos mais duradouros e com menos consumo de energia.

A Dragonfly, a exemplo da CAESAR, também tem uma pegada em astrobiologia — seu objetivo é estudar a rica química prebiótica e o potencial de habitabilidade na lua saturnina. Sua cientista-chefe é Elizabeth Turtle, do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins, mesmo “berço” da sonda New Horizons.

Trata-se de uma missão que, em termos operacionais, é bem mais complexa e cheia de novidades que sua concorrente. A equipe da Dragonfly vai ter de ralar muito para provar à Nasa, ao longo dos próximos 18 meses, que há uma boa chance de sucesso. Em seu favor há o fato de que uma sonda já conseguiu pousar em Titã, e na primeira tentativa (a europeia Huygens desceu lá em 2005), de forma que o procedimento não é de todo desconhecido.

Embora a CAESAR seja interessantíssima, o Mensageiro Sideral é #teamDragonfly desde criancinha.

AOS PERDEDORES, ALGUMAS BATATAS
Das dez propostas de missão que ficaram para trás, duas ainda ganharam um prêmio de consolação: a Nasa decidiu dar a elas um financiamento de desenvolvimento tecnológico para que elas possam entrar com tudo numa próxima rodada de seleção.

São elas a ELSAH, que queria buscar sinais de vida em Encélado, a pequena e intrigante lua saturnina que tem todos os ingredientes necessários para abrigar uma biosfera, e a VICI, um módulo de pouso para Vênus.

E não custa lembrar que a concorrência estava limitada a seis temas considerados prioritários pela Nasa, baseados em sua pesquisa decenal com a comunidade científica: retorno de amostra de cometa, retorno de amostras do polo sul da Lua, mundos-oceanos, sonda atmosférica de Saturno, visita a asteroides troianos e exploração da superfície de Vênus.

Uma olhada nessa competição ferrenha ajuda a entender a emoção dos pesquisadores quando sua missão finalmente vai ao espaço — não é só aquele momento de triunfo, mas muitos anos de dedicação e vitórias sucessivas para realizar o sonho de preencher mais uma página na empolgante história da exploração do Universo.

Acompanhe o Mensageiro Sideral no Facebook, no Twitter e no YouTube

]]>
96
Astronomia: Os mistérios que restaram em Saturno https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/09/18/astronomia-os-misterios-que-restaram-em-saturno/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/09/18/astronomia-os-misterios-que-restaram-em-saturno/#comments Mon, 18 Sep 2017 05:00:42 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2015/08/Saturn_Equinox1-e1440985362135-180x156.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6887 Conheça os seis grandes mistérios que a Cassini deixou para a próxima missão a Saturno.

TEMPESTADE HEXAGONAL
Saturno tem uma estranha tempestade permanente no polo norte, que molda os ventos em forma hexagonal. O que a alimenta? Não sabemos, assim como não temos ideia da estrutura mais profunda da atmosfera do planeta gigante.

ESTRUTURA FINA DOS ANÉIS
A Cassini fez observações incríveis de todos os anéis de Saturno. Mas ela não foi capaz de se aproximar a ponto de ver as partículas individuais que os compõem. Uma próxima missão poderia se concentrar nisso, elevando nossa compreensão desse cartão postal do Sistema Solar.

RESPINGOS EM TÉTIS
Com pouco mais de mil quilômetros de diâmetro, a lua Tétis é praticamente toda feita de gelo de água. Esburacada e vulgar, ela não chamaria grande atenção, não fossem arcos vermelhos que cruzam sua superfície. Ninguém sabe como essas estruturas, que mais parecem respingos de tinta, foram parar lá.

O OCEANO DE DIONE
A vizinha de Tétis, Dione, é só um pouquinho maior, e bem mais densa, com um substancial núcleo rochoso. A Cassini obteve evidências consistentes de que ela tem um oceano de água líquida sob a crosta. Mas não será fácil aprender mais sobre ele no futuro, já que ele parece não ter contato com a superfície.

OS MARES DE TITÃ
A maior das luas saturninas merecia até ser planeta: é maior que Mercúrio e tem atmosfera mais densa que a da Terra. Lá, num frio de rachar, metano e etano fazem o papel da água, produzindo nuvens, chuvas, rios, lagos e mares. Que reações químicas bizarras podem acontecer num corpo líquido desses? Mandar uma nova sonda lá poderia elevar a expressão de Camões “por mares nunca dantes navegados” a um novo patamar.

HÁ VIDA EM ENCÉLADO?
Com 504 km de diâmetro, Encélado foi a grande surpresa da Cassini, com um oceano de água líquida sob a crosta e gêiseres no polo sul. A Cassini conseguiu determinar que o oceano teria tudo para abrigar microrganismos como os que existem na Terra. Mas será que tem algo vivo lá? Só uma nova missão, capaz de detectar moléculas orgânicas complexas, poderia responder isso.

BÔNUS: MEU RÉQUIEM PARA A CASSINI
Na edição de sábado (16), esta Folha publicou minha reportagem sobre o final da Cassini. Convido você à leitura, à sua conveniência, claro, clicando aqui.

A coluna “Astronomia” é publicada às segundas-feiras, na Folha Ilustrada.

Acompanhe o Mensageiro Sideral no Facebook, no Twitter e no YouTube

]]>
151
AO VIVO: Sonda Cassini mergulha em Saturno https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/09/15/ao-vivo-sonda-cassini-mergulha-em-saturno/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/09/15/ao-vivo-sonda-cassini-mergulha-em-saturno/#comments Fri, 15 Sep 2017 05:11:08 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/04/fim-cassini-180x101.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6870 Depois de 20 anos no espaço e 13 anos revelando todos os segredos de Saturno, a missão Cassini chega ao seu final — produzindo dados científicos até o último segundo. A espaçonave mergulhou na atmosfera do segundo maior planeta do Sistema Solar e colheu informações sobre sua composição até se desintegrar como uma bola de fogo no céu saturnino. Acompanhe a transmissão ao vivo do Mensageiro Sideral, com imagens do controle da missão em Pasadena, nos EUA, e comentários do astrônomo Cassio Barbosa e do engenheiro aeroespacial Lucas Fonseca.

ÚLTIMAS ATUALIZAÇÕES

2h08 – A Cassini cruza a região da órbita da lua Encélado, já avançando para o domínio dos anéis de Saturno, rumo ao seu mergulho final.

4h14 – A espaçonave começa um rolamento de cinco minutos para apontar o seu espectrômetro de massa e íons na direção do mergulho, para que ele possa medir a composição da atmosfera. Sua operação passa agora a transmitir os pacotes de dados em tempo real, a modestos 3,4 Kbytes por segundo.

4h22 – A Cassini já cruzou a distância orbital do anel F, o mais externo dos anéis principais de Saturno.

5h45 – A sonda segue em contato permanente com a Terra desde que enviou suas últimas imagens, ontem.

7h00 Começando nosso feed de vídeo ao vivo (no player acima).

7h31 – Segundo as predições dos cientistas, nessa hora a Cassini começou a entrar na atmosfera de Saturno, a mais de 110 mil km/h. O ar ainda é muito rarefeito a essa altitude — mais ou menos a mesma densidade que se encontra, na Terra, na região orbital da Estação Espacial Internacional, a cerca de 400 km do chão. É quase nada, mas para a Cassini, a essa velocidade, é o suficiente para ela brigar com o arrasto para manter sua antena apontada para a Terra.

7h32 – Pelas estimativas, a Cassini já deve ter perdido a briga e sua antena não está mais apontada para a Terra. Esse é o fim de sua missão. Mas só saberemos em 83 minutos — tempo que os sinais de rádio dela levam para chegar à Terra, vindos de Saturno.

8h55 – SINAL CORTADO. Acabou a missão Cassini, tornando-se uma estrela cadente no céu de Saturno.

 

A MISSÃO

Lançada em 1997, a Cassini chegou a Saturno em 2004, onde foi responsável por incríveis descobertas, como a existência de oceanos de água líquida no interior das luas Titã e Encélado. Enquanto a primeira representa um ambiente muito similar ao que a Terra tinha quando a vida surgiu por aqui, a segunda tem fissuras em sua superfície que permitem que jatos de água escapem para o espaço. Ao atravessar essas plumas, a espaçonave confirmou que o ambiente do oceano de Encélado tem todas as condições para a existência de vida microbiana similar à encontrada no fundo dos oceanos terrestres.

A missão, que teve seu planejamento iniciado em 1982, consumiu US$ 3,9 bilhões e envolveu três agências espaciais: a americana Nasa, a europeia ESA e a italiana ASI. Um dos grandes destaques da missão foi o módulo europeu Huygens, que se desprendeu da Cassini e pousou em Titã em janeiro de 2005, tornando-se a primeira espaçonave a realizar um pouso numa lua que não fosse a da Terra.

Originalmente programada para durar só até 2008, a Cassini teve duas extensões de sua missão, que permitiram monitorar mudanças em Saturno conforme ele ia do inverno no hemisfério Norte para o verão (o planeta tem estações, como a Terra, mas elas se desenrolam muito mais lentamente, já que ele leva 29 anos para completar uma volta ao redor do Sol).

Agora, a missão tem de acabar porque não há mais combustível para manobrá-la. Deixá-la em órbita ameaçaria as luas potencialmente habitáveis, Titã e Encélado, de contaminação acidental de bactérias terrestres que possam ter sobrevivido a bordo da Cassini. Para evitar qualquer risco, decidiu-se por uma estratégia que foi batizada de Grand Finale — uma sequência de 22 órbitas que colocariam a Cassini entre Saturno e seus anéis.

A última órbita termina nesta sexta-feira (15). Existe alguma incerteza nos cálculos, mas a expectativa dos cientistas é que ela inicie a entrada na atmosfera de Saturno por volta das 7h31 (de Brasília) e perca a capacidade de manter sua antena apontada para a Terra apenas um minuto depois, mergulhando a uma velocidade superior a 110 mil km/h.

Os sinais, contudo, levam 83 minutos para viajar — à velocidade da luz — até as antenas gigantes da Deep Space Network em Camberra, na Austrália, onde serão captadas. Portanto, a Terra só ouvirá o silêncio que se seguirá à perda da Cassini por volta das 8h55.

Acompanhe o Mensageiro Sideral no Facebook, no Twitter e no YouTube

]]>
165
Voyager preferiu não ir a Plutão, diz cientista-chefe https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/08/24/voyager-preferiu-nao-ir-a-plutao-diz-cientista-chefe/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/08/24/voyager-preferiu-nao-ir-a-plutao-diz-cientista-chefe/#comments Thu, 24 Aug 2017 09:00:28 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2013/12/voyager-150x150.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6802 Durante seu planejamento inicial, a missão Voyager, que completou 40 anos no espaço no último domingo (20), poderia ter ido até Plutão — então tido como o nono planeta do Sistema Solar. Mas os cientistas preferiram deixar para lá, em nome de outro alvo: Titã, a maior das luas de Saturno. É o que conta Ed Stone, 81, cientista-chefe da missão desde 1972, em entrevista ao Mensageiro Sideral.

Uma possibilidade originalmente aventada seria mandar a Voyager 1 para Júpiter, Saturno e, de lá, para Plutão, enquanto a Voyager 2 visitaria Júpiter, Saturno, Urano e Netuno, como de fato aconteceu. Mas os cientistas estavam especialmente intrigados com Titã, a única lua do Sistema Solar a abrigar uma atmosfera densa recheada de moléculas orgânicas. Só que a trajetória ótima para o estudo de Titã impediria a sonda de ganhar o impulso gravitacional certo de Saturno para pegar o caminho de Plutão. E aí, entre um alvo e outro, os pesquisadores da Nasa preferiram ficar com Titã.

“Bem, Titã estava obviamente apenas quatro anos depois do lançamento, e Plutão teria sido doze anos”, diz Stone. “Então, alguém estaria trocando algo que achávamos bem provável que acontecesse por algo que era menos provável, que a espaçonave pudesse durar por tanto tempo.”

A exploração da lua saturnina produziu alguns resultados muito interessantes, como a descoberta de que a atmosfera dela era majoritariamente feita de nitrogênio, como a da Terra, e que muitas reações químicas prebióticas deviam se desenrolar por lá. Também foram obtidas evidências de que Titã tinha nuvens de metano e provavelmente chuvas de metano.

Mas, no fim das contas, passar perto da lua não foi tão vantajoso para a Voyager 1, considerando que Titã era encoberto por uma densa névoa que impedia qualquer observação da superfície em luz visível. E o reconhecimento de Plutão teve de esperar a sonda New Horizons, que finalmente completou a meta deixada em aberto pelas Voyagers em 2015.

Aproveitando a deixa sobre “dúvidas” e “caminhos percorridos”, confira essa pequena — mas eloquente e genial — tira de quadrinhos produzida por Renato Cambraia, engenheiro e quadrinista, em homenagem aos 40 anos da missão Voyager.

E confira a seguir o papo de cerca de meia hora que o Mensageiro Sideral travou com Ed Stone, falando dos pontos altos da Voyager, os resultados da missão interestelar até aqui, o que se espera descobrir ao longo da próxima década, o famoso Golden Record destinado a uma potencial civilização extraterrestre e como foi trabalhar com Carl Sagan. A conversa é acompanhada por muitas imagens e vídeos históricos da Voyager.

Acompanhe o Mensageiro Sideral no Facebook, no Twitter e no YouTube

]]>
82
Astronomia: Chance para vida exótica em Titã? https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/07/31/astronomia-chance-para-vida-exotica-em-tita/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/07/31/astronomia-chance-para-vida-exotica-em-tita/#comments Mon, 31 Jul 2017 05:00:32 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/07/PIA06236-174x180.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6674 Radiotelescópio detecta em Titã molécula capaz de produzir células para vida exótica.

SOCIEDADE ALTERNATIVA
Dizem por aí, nos corredores da moda, que acrilonitrila é o novo preto. Isso pelo menos em Titã, onde esse composto acaba de ser detectado. Afirmam os cientistas que ele poderia exercer por lá o mesmo papel que na Terra é cumprido pelos lipídios para formar membranas celulares, talvez levando ao surgimento de formas de vida, inteiramente diferentes das terrestres, na maior das luas de Saturno.

QUASE UM PLANETA
Com 5.150 km de diâmetro, Titã chega a ser maior que o planeta Mercúrio, e é a única lua conhecida no Sistema Solar com uma atmosfera tão densa quanto a da Terra. E, a exemplo daqui, o principal gás a compor o ar lá é o nitrogênio.

FRIO DE RACHAR
A lua, orbitando o longínquo Saturno, recebe apenas um centésimo da luz solar que chega à Terra, o que resulta em um ambiente de -180C. A essa temperatura, água se comporta como rocha. E, no entanto, há também um ciclo hidrológico em Titã. Lá, os compostos que evaporam e chovem, preenchendo rios, lagos e mares, são hidrocarbonetos — metano e etano.

TUDO JUNTO E MISTURADO
Com a grande quantidade de compostos orgânicos em sua atmosfera enevoada, já se esperava que moléculas complexas surgissem, com a ajuda dos raios ultravioleta do Sol. Em 2015, um grupo da Universidade Cornell sugeriu que um desses compostos produzidos seria a acrilonitrila, com seu potencial para fabricar membranas.

GARIMPO DE DADOS
Para confirmar isso, um grupo da Nasa acaba de vasculhar dados colhidos pelo radiotelescópio Alma, no Chile. E encontrou sinais da molécula em Titã, em quantidade bastante alta. Eles sugerem que esse composto literalmente choveria por lá, numa concentração que permitiria produzir 10 milhões de membranas celulares por mililitro nos mares de metano e etano.

PEQUENO QUÍMICO
Claro que isso não quer dizer que deva existir vida em Titã. Mas trata-se de uma bela mostra de como o Universo pode exercer toda a sua criatividade química mesmo em ambientes que são diferentes dos prevalentes em nosso planeta.

A coluna “Astronomia” é publicada às segundas-feiras, na Folha Ilustrada.

Acompanhe o Mensageiro Sideral no Facebook, no Twitter e no YouTube

]]>
87
Cassini continua a tirar o fôlego dos terráqueos https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/07/24/cassini-continua-a-tirar-o-folego-dos-terraqueos/ https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/2017/07/24/cassini-continua-a-tirar-o-folego-dos-terraqueos/#comments Mon, 24 Jul 2017 19:10:38 +0000 https://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/files/2017/07/PIA21621-180x158.jpg http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/?p=6657 Antes de mais nada, pare o que quer que você esteja fazendo, respire fundo, e perca algum tempo olhando para esta imagem. Isto é Saturno, visto de perto pela venerável sonda Cassini, que está completando suas últimas voltas antes de um mergulho fatal na atmosfera do segundo maior planeta do Sistema Solar, em 15 de setembro.

A imagem revela os anéis de Saturno como seriam vistos de uma perspectiva interna ao planeta e ainda mostra a névoa que recobre o céu azul da alta atmosfera saturnina. Capturada no dia 16 de julho, a imagem foi obtida pela Cassini quando ela estava a 1,25 milhão de km do planeta, já se afastando após mais um sobrevoo rasante através do vão entre os anéis e o gigante gasoso.

As cores não são exatamente as que nossos olhos veriam. Para realçá-las, a imagem faz uso de três filtros, dos vários disponíveis à Cassini para suas investigações científicas. Dois são de fato cores que enxergamos, verde e vermelho. Mas, para o lugar do azul, os cientistas usaram o filtro de ultravioleta. Então, tecnicamente, a imagem é dois terços cor real, um terço falsa cor. E 100% espetacular.

A imagem veio no último relatório ao público preparado pela equipe de comunicação do JPL (Laboratório de Propulsão a Jato) para informar das últimas descobertas feita pela sonda durante esta etapa derradeira da missão, o Grand Finale.

E, até agora, o que eles descobriram foi… complicado.

O campo magnético do planeta parece estar absurdamente alinhado com o eixo de rotação, algo que, segundo modelos teóricos, não deveria acontecer. Além de inviabilizar a medição do giro interno do planeta, o resultado parece desafiar nossas explicações de como o campo magnético no interior de Saturno é gerado. Os cientistas ainda não abandonaram suas ideias anteriores, mas esperam reunir mais dados até o final da missão para descobrir o que estão detectando e, com isso, decifrar como o planeta produz sua magnetosfera e qual é sua rotação real, obscurecida pelo fato de que a atmosfera superior — tudo que vemos do lado de fora — gira em velocidades diferentes em lugares diferentes.

Os resultados das medições de gravidade também apresentam dados intrigantes, aparentemente inconsistentes com o que se esperava da estrutura interna do planeta — a exemplo do que aconteceu com a Juno em Júpiter. Aparentemente, sabemos menos sobre como planetas gigantes se organizam internamente do que julgávamos antes, e tanto a Cassini como a Juno nos permitirão dar um salto significativo nessa compreensão no futuro próximo.

Por fim, o pessoal do JPL informou que a Cassini conseguiu colher amostras de partículas do anel D, o mais interno de Saturno, o que permitirá investigar sua composição. Imagens das câmeras também revelaram texturas no anel C, que ajudarão a decifrar sua estrutura e composição.

Estranhas texturas observadas pela Cassini no anel C, de Saturno. (Crédito: Nasa)

Por fim, a sonda também deu uma “cheirada” na exosfera — a camada mais alta e rarefeita da atmosfera do planeta — com seu espectrômetro, o que permitirá determinar em detalhes que gases a compõem. Essas medições, claro, terão seu ponto mais alto quando a sonda mergulhar no planeta, mandando dados da composição até perder o apontamento de sua antena com a Terra e queimar como uma estrela cadente saturnina, em 15 de setembro.

Acompanhe o Mensageiro Sideral no Facebook, no Twitter e no YouTube

]]>
174